A quinta temporada de «The Crown» é a primeira a estrear já sem Isabel II, a rainha que inspirou toda a história, estar viva. Na narrativa, a tragédia da Princesa Diana começa a desenhar-se. Já disponível na Netflix.

Os heróis são todos efémeros e, não raras vezes, até antes da sua morte. E nem sempre com o grande aparato estilístico de se transformarem em vilões; por vezes, basta fazerem o que de mais humano há: errar. Não estamos, naturalmente, a ascender qualquer personagem de «The Crown» ao estatuto de “herói”, mas esta comparação ajuda a ilustrar, de certa forma, aquilo que aconteceu com a rainha Isabel II nos anos 90, e que muitos anunciaram como ultrapassável. Para o Príncipe Carlos, hoje Rei, ainda lhe custa a sua popularidade entre habitantes do Reino Unido e não só – o que acaba por ser irónico quando pensamos no início auspicioso em “Queen Victoria Syndrome”.

The Crown
Netflix

Sempre houve uma certa expetativa em relação à chegada da Princesa Diana a «The Crown» e, agora, vista como futura rainha, é uma das personagens com maior destaque na quinta temporada. A chegada à T5 trouxe também um elenco renovado, onde se destacam nomes como Imelda Staunton, Jonathan Pryce, Dominic West, Elizabeth Debicki, Lesley Manville e Jonny Lee Miller, entre outros.

Os novos episódios são o primeiro ato de uma tragédia mais do que conhecia, a morte de Diana, já divorciada de Carlos, quando seguia num carro com o namorado da altura em fuga dos paparazzi. Mas, até lá chegar, convém perceber a vida de grande tristeza que se escondia por detrás do charme da Família Real. Adorada pelo povo, Diana (Elizabeth Debicki) sofria dentro do seu casamento com Carlos (Dominic West), que mantinha um relacionamento extraconjugal com Camilla (Olivia Williams). Focado nas aparências apenas por saber que tinha algo a ganhar com isso, Carlos é o vilão anunciado de uma temporada que auspicia um desastre mediático de proporções quase insuperáveis.

Em termos narrativos, o criador Peter Morgan volta a privilegiar a humanidade das personagens, com os seus defeitos e virtudes, desconstruindo em tela aqueles que terão sido os bastidores do casamento de Carlos e Diana, bem como da quebra de popularidade de Isabel II (Imelda Staunton). As incursões da ficção tentam dar corpo àquilo que terá levado a um fim que todos conhecemos, e que ainda recentemente voltou a ganhar eco, seja pelo aniversário da morte de Diana, seja pela morte de Isabel II e todo o aparato que se seguiu.

«The Crown» tem uma estrutura forte e é essa coerência desde o início que, apesar das liberdades narrativas que toma, continua a atrair a audiência. Espreitar o que não foi alcançável é um gesto voyeurista que continua a funcionar, mesmo que seja apenas uma representação da verdade, mas é curioso perceber que nem num dos momentos mais negros da história da rainha, deixa de ser procurada a empatia com o espetador (por vezes à custa de Carlos).

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