A Evocação

THE CONJURING – A EVOCAÇÃO

THE CONJURING – A EVOCAÇÃO

[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº13, Outubro 2013]

Enquanto estreia entre nós «The Conjuring – A Evocação», já chegou às salas de cinema norte-americanas a sequela de “Insidioso” (2010) – o filme anterior do realizador James Wan –, com o título sugestivo «Insidious: Chapter 2», será que isto quer mesmo dizer que aí vêm mais? É que, de facto, Wan, que com «Saw – Enigma Mortal» (2004) deu origem à infernal saga sanguinolenta (já vai em 7 ou 8 capítulos) do franchise mais popular e mais lucrativo da história recente do género, parece atreito a coisas que se repetem no tempo e que voltam para nos assombrar (o seu próximo filme é «Fast & Furious 7»…). Esta é, de resto, a premissa clássica para uma história de casas assombradas, e «A Evocação» é uma típica história de casas assombradas, um filme dejà vu.

Alegadamente baseado em “factos reais”, o filme recupera um caso mediático que terá ocorrido nos anos 70 do século passado na pequena cidade de Harrisville, no norte dos Estados Unidos da América. O casal Perron, interpretado por Lili Taylor e Ron Livingston, e as suas cinco filhas – isto já parece argumento suficiente para um filme de terror – estão de mudança para uma casa antiga nos subúrbios. Como é habitual, seguindo o caminho já inúmeras vezes percorrido, o entusiasmo inicial dá rapidamente lugar a acontecimentos estranhos. Tudo começa com pequenos incidentes como relógios que param sempre à mesma hora, marcas negras que aparecem inexplicavelmente no corpo da mãe, cheiros ou sons que sugerem a presença de forças sobrenaturais, factos que, numa progressiva escalada de violência, acabam por levar os Perron, em desespero, a chamar os demonologistas Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga).

Verdadeiras figuras de culto, os Warren foram pioneiros na investigação de fenómenos paranormais, e os seus relatos, baseados numa carreira com quase 50 anos, já deram origem a vários livros e filmes, com especial destaque para o caso de Amityville que conta com múltiplas adaptações ao cinema (este ano acaba de sair mais uma, «The Amityville Asylum», sem estreia marcada para Portugal). A ideia por trás da maioria destes casos é a mesma de «The Conjuring – A Evocação», ou seja, de que um acontecimento perturbador, como um crime violento pode deixar um rasto, um eco que se propaga no tempo e no espaço. O espaço, e em especial a casa carrega consigo memórias, vidas que se intersectam, guarda vestígios e marcas dos seus antigos habitantes, dos viajantes reais ou imaginados que por lá passaram em diferentes tempos. Mas o filme é talvez demasiado concreto, explica demasiados pormenores. É verdade que se trata, em parte, de uma investigação, mas a preocupação dos Warren em revelar todos os motivos por trás das acções dos espíritos malignos torna muito previsível o desenvolvimento narrativo e apaga as fundamentais notas de mistério sem as quais «The Conjuring – A Evocação» acaba por não conseguir passar de um filme “competente” e equilibrado, mas que não chega realmente a perturbar o espectador e muito menos a causar-lhe terror.

Título original: The Conjuring Realização: James Wan Elenco: Patrick Wilson, Vera Farmiga, Ron Livingston, Lili Taylor Duração: 112 min EUA, 2013