«The Beanie Bubble» é uma daquelas comédias baseadas em factos verídicos que não poderia ser mais pertinente pela sua história imutável e pela febre do colecionismo digital e capitalismo desenfreado. O filme, em tons de fábula contemporânea, faz-se através da visão de três mulheres: a sócia empreendedora (Elizabeth Banks), o ombro amigo da futura esposa (Sarah Snook de «Sucession») e a assistente visionária (Geraldine Viswanathan). Estas cruzam-se em diferentes etapas com Ty Warner, um frustrado fabricante de brinquedos que se tornou no Midas da indústria. O filme vai entrelaçando energeticamente estes veios narrativos. Ty Warner é um personagem especialista a ser rico à custa das ideias dos outros, apagando a existência de todos aqueles que o colocaram em lugar de destaque. O individualismo grosseiro é interpretado por Zach Galifianakis, perfeito como pessoa excêntrica e dúbia. O papel da mulher é denegrido e secundarizado. As três mulheres agiam por amor, talento e visão, mas foram amplamente desprezadas enquanto Ty Warner passou de um pé descalço a multimilionário com o império dos bonecos de peluche que dominou a América nos anos 1990. O filme foca as inseguranças e o calculismo cínico de Ty. A história consegue ser muito divertida e “fofa” (afinal, estamos a falar de peluches!) com as excentricidades de Ty. «The Beanie Bubble», da AppleTV+, tem uma realização colorida e ritmada a partir de um relato dinâmico que mesmo contado é difícil de acreditar. Mas as ressonâncias com o mundo real, onde o mérito das mulheres é geralmente apagado para dar lugar a homens de sucesso, são demasiado flagrantes e preocupantes.
Título original: The Beanie Bubble Realização: Kristin Gore, Damian Kulash Elenco: Zach Galifianakis, Elizabeth Banks, Sarah Snook, Geraldine Viswanathan, Tracey Bonner Duração: 110 min. EUA, 2023
[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº99, Outubro 2023]
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