A METROPOLIS teve acesso aos quatro primeiros episódios da terceira temporada de «Ted Lasso», que estreia hoje, 15, na Apple TV+. Para tristeza de muitos, onde me incluo, esta deve mesmo ser a última viagem de Ted pelo futebol inglês; resta esperar por possíveis spin-offs…
«Ted Lasso» é, provavelmente, a minha série favorita da atualidade. Não por apresentar uma qualidade acima da média, tantas são as séries boas que vemos por aí, mas pela resposta emocional que dou a ver a aposta da Apple TV+. A história de sofrimento e sucesso de Ted Lasso (Jason Sudeikis) é uma autêntica epopeia do futebol moderno, e até a sua tendência natural para o caos parece trazer alguma ordem ao AFC Richmond, de regresso à Premier League – como curiosidade, a equipa ficcional foi incluída este ano no jogo FIFA23.
Na companhia de Beard (Brendan Hunt) e Roy Kent (Brett Goldstein), os seus treinadores adjuntos após a saída de Nate (Nick Mohammed), Ted tenta, sem parecer tentar realmente, dar sentido e confiança à equipa, totalmente arrasada pelos comentadores desportivos. Todos, profissionais e amadores, apontam para que o AFC Richmond vá terminar a época em último, enquanto Rebecca (Hannah Waddingham) está obcecada em ficar à frente do ex Rupert Mannion (Anthony Head), que adquiriu o West Ham e é apontador a terminar no top 4. A equipa rival é agora liderada por Nate, uma figura cada vez mais antagónica, ainda que com laivos de sensatez e sensibilidade.
Entre as storylines da nova temporada, encontramos um novo desafio pessoal para Ted, no que diz respeito à separação da mulher e distância do filho; o pós de Roy e Keeley Jones (Juno Temple); um lado mais místico de Rebecca, em conflito com o seu destino; uma presença inesperada de Trent Crimm (James Lance); uma espécie de redenção de Jamie Tartt (Phil Dunster); um “verdadeiro” Zlatan Ibrahimović: Zava (Maximilian Osinski); e uma maior complexidade para algumas segundas linhas.
O argumento de «Ted Lasso» mantém a qualidade a que nos habituou. Da comédia ao drama, passando pela tensão, a série procura ilustrar a intensidade de emoções sentidas por Ted, ao mesmo tempo que também distribui jogo aos restantes intervenientes, com uma atenção especial, sobretudo, a Rebecca, Keeley e Nate. A forma humana e descontraída com que o treinador do AFC Richmond aparenta reagir a tudo, sempre com uma piada ou um trocadilho, é uma máscara que esconde algo de dimensão monstruosa; que a série já abordou na T2 e que volta a trazer para o centro da discussão.
Pelo menos no início da T4, há um foco maior nos jogos e em jogadas específicas, naquela que deverá ser a última caminhada do clube – pelo menos com Ted Lasso ao leme – no pequeno ecrã. A construção da jornada do herói acontece dentro e fora de campo, embora seja muito cedo para perceber até onde os criadores querem ir. No entanto, e apesar do foco muito dirigido ao iminente choque Ted/Nate, a tensão está muito mais presente nos restantes, seja na dinâmica familiar, seja na profissional. A própria Keeley tem de aguentar a rigidez de Barbara (Katy Wix), a CFO da sua nova empresa.
E se corre bem? A frase popularizou-se no meio desportivo nacional depois de proferida por Rúben Amorim, treinador do Sporting, que seria campeão pouco depois. Naquela que deve ser a última temporada de «Ted Lasso», apetece perguntar o mesmo: “E se corre bem?”. E se o tipo que não percebia nada de futebol leva mesmo o caneco no fim? Será que, já que vamos ter de dizer adeus, vamos ter direito a um final feliz? Believe [acreditem], diz o cartaz no balneário, rasgado entretanto por Nate. E a audiência acredita, na nova temporada… e na possibilidade de spin-offs. Será muito pedir a continuação da narrativa de Keeley Jones, Roy Kent ou até a Dra. Sharon Fieldstone (Sarah Niles)?