Em pouco mais de uma década Seth McFarlane tornou-se uma referência incontornável na comédia norte-americana, graças às suas séries animadas «Family Guy», «American Dad», e «The Cleveland Show». Com ele o humor não tem limites, é um verdadeiro vale-tudo, indo da piada mais infantil, ao deliberadamente politicamente incorrecto, descambando não raras vezes no ataque pessoal e no mau-gosto. McFarlane explora ao máximo as potencialidades dos desenhos animados conseguindo sempre fazer rir o espectador mais sisudo com as incríveis pantominices do seu elenco de personagens.
McFarlane gosta de riscos e principalmente de fazer rir, seja lá o que for preciso para isso. Assim para a sua primeira longa-metragem cinematográfica que escreveu, dirigiu e protagonizou, McFarlane atira-se de cabeça para um projecto que à partida era no mínimo problemático: um filme de imagem real onde um dos protagonistas é um urso de peluche, que bebe, pragueja, luta, usa substâncias ilegais, etc.
Ted é o urso de peluche de John Bennet, um miúdo de 8 anos solitário e mal-amado pelos seus contemporâneos, que depois de receber o urso como presente de natal deseja que ela seja o seu melhor amigo para sempre. E o inexplicável acontece, Ted ganha vida própria e torna-se o melhor amigo de John partilhando juntos todos os momentos da sua infância. O urso torna-se durante algum tempo uma celebridade, aparecendo em programas de tv, mas a novidade depressa desaparece e Ted retoma a sua vida anónima ao lado de John. Porém, 27 anos depois de ter ganho vida, Ted ainda vive com o seu melhor amigo, e ambos continuam a partilhar um medo de trovoadas que tentam ultrapassar com uma canção especial. Quem não está muito contente com a situação é Lori, a namorada de John que há anos espera que ele abandone o seu modo de vida irresponsável e case com ela. O grande entrave é naturalmente Ted que tudo faz para continuar a sua existência de farra ao lado do seu melhor amigo.
Narrativamente o filme é bastante tradicional, mas os diálogos de McFarlane e o seu crescendo de situações ridículas e excessivas elevam a intriga para o domínio da comédia absurdista que apesar da premissa algo limitada surpreendentemente nunca perde força evoluindo de situação para situação numa espiral de irresistível hilaridade. Talvez a mais divertida comédia do ano e sem dúvida a mais irreverente.
Destaque para a qualidade dos efeitos especiais – o urso, e também para as prestações de Wahlberg e Kunis e do convidado especial Sam Jones. Os papás e mamãs talvez façam bem em evitar levar as criançinhas a ver o ursinho Ted, pois talvez saiam de lá mais corados que um turista inglês trabalhando para o bronze no Algarve.
[Crítica publicada originalmente na revista Metropolis nº 0.5, Julho 2012]
Título original: Ted Realização: Seth MacFarlane Elenco: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth MacFarlane. Duração: 106 min. EUA, 2011