[Crítica originalmente publicada na revista Metropolis nº20, Junho, 2014]
O lançamento de um filme como «Tal Pai, Tal Filho» envolveu necessariamente uma margem de “revelação” que, em última instância, talvez tenha condicionado a própria percepção da sua dramaturgia. De facto, esta é a história insólita e perturbante de duas famílias, cada uma com um menino de seis anos, que vêm a descobrir que houve um erro no hospital em que os seus filhos nasceram e… foram trocados. Dito de outro modo: poderá pensar-se que se trata de um esquema mais ou menos “policial”, orientado por uma lógica de reposição da verdade.
Ora, justamente, se há questão que, serenamente, o filme de Hirokazu Kore-eda vai contemplando nas suas personagens e, de algum modo, sugerindo aos seus espectadores, é essa: onde está a verdade? Ou ainda: até que ponto a consolidação de uma estrutura familiar se esgota nas suas componentes biológicas ou decorre antes de uma complexa interacção de elementos afectivos, morais e simbólicos?
O mínimo que se pode dizer é que Kore-eda continua a ser um invulgar analista das paisagens familiares, prolongando a delicadeza humana de títulos como «Andando» (2008) ou «O Meu Maior Desejo» (2011). «Tal Pai, Tal Filho», distinguido com o Prémio do Júri de Cannes/2013, consegue essa proeza de, a partir dos particularismos culturais da sua história, adquirir uma dimensão genuinamente universal. João Lopes
Título original: Soshite chichi ni naru Realização: Hirokazu Kore-eda Elenco: Masaharu Fukuyama, Machiko Ono, Yôko Maki. Duração: 121 min. Japão, 2013