A tecnologia é a resposta para todos os males de amor em «Soulmates», uma série antológica desenvolvida por dois dos argumentistas envolvidos em «Black Mirror» e «Stranger Things», William Bridges e Brett Goldstein. A Metropolis teve acesso antecipado à série, que estreia amanhã, às 22h10, no AMC Portugal.

Em «Soulmates», a descoberta da soul particle [partícula da alma, em português] revolucionou os relacionamentos amorosos e as pessoas podem descobrir quem é a sua alma gémea com apenas um teste. A premissa pode ser atrativa, mas, assim como acontece em «Black Mirror», não aparece sem um senão (ou vários). A série tem formato de antologia, com cada episódio a contar uma história independente.

Soulmates

É incrível como uma mera partícula pode mudar o mundo de forma tão impactante. Em 2023, descobre-se que há um detalhe na nossa alma que possibilita, através de um simples teste, um match com a pessoa com quem estamos destinados a passar o resto da vida. Isto afeta pessoas solteiras, que optam pelo determinismo, mas também indivíduos comprometidos que querem saber se há algo mais do “lado de lá”, que parece bem mais cor de rosa. Isto porque os casais formados pelo teste parecem ser a prova viva do sucesso da tecnologia, que prevalece à emoção, com casamentos-relâmpago e lares destruídos para sempre.

Cada episódio de «Soulmates» narra uma história relacionada com o teste, de forma mais imediata ou não, revelando que nada é assim tão linear. E os finais felizes aparentes são sempre acompanhados por um ponto de interrogação que coloca tudo em causa.

Os atores envolvidos nesta série são de luxo. Sarah Snook, em altas por causa de «Succession», é a protagonista do primeiro episódio, que retrata a vida feliz de Nikki com o marido Franklin (Kingsley Ben-Adir). Atraída pela felicidade trazida pela partícula milagrosa, Nikki tem a tentação de fazer o teste, de forma a descobrir se escolheu o melhor caminho para ela. Será que avança? Um drama que é uma realidade no presente de «Soulmates», comandada por uma tecnologia que diz quem tem a capacidade nos fazer felizes. Mas, e se já formos felizes?

O episódio piloto “Watershed” é o mais consistente, com a qualidade a decrescer tendencialmente nos seguintes. Tal está relacionado com a solidez do argumento, mas em grande parte com a performance de Sarah Snook. A par deste episódio, destaca-se também o sexto, potencialmente o melhor da primeira temporada. Betsy Brandt é Caitlin Jones, uma mulher sem autoestima que vive mergulhada numa rotina inútil.

Quando a “alma gémea” ainda não fez o teste, o seu par — caso já o tenha feito — fica no limbo e um pouco à deriva, na expectativa que a outra pessoa se decida a procura também a sua “alma gémea”. É o caso de Caitlin, cuja vida de medo e amargura acaba por ser revolucionada quando o pretenso amor da sua vida faz, finalmente, o teste. No entanto, esta não é uma narrativa simplista e, assim como uma história de origem, desmistifica as ideias preconcebidas do espectador. E “The (Power) Ballad of Caitlin Jones” tem realmente o poder de surpreender.

Soulmates

Quase em serviços mínimos, a viver muito do currículo dos seus criadores, William Bridges e Brett Goldstein, «Soulmates» responde ao que promete. Sem grande aparato ou narrativas estonteantes, como acontece em «Black Mirror» (que coloca a exigência lá em cima), a série antológica tem a capacidade de criar uma narrativa convincente e de analisar o uso da tecnologia e o seu impacto no futuro de cada um. Mas, quando o termo de comparação é «Black Mirror», que revolucionou a televisão na última década, este é uma batalha onde se entra para perder. É tudo uma questão de expetativas.

Na primeira temporada da série, «Soulmates» conta com um elenco longo e versátil, onde se destacam Laia Costa, David Costabile, Charlie Heaton, Bill Skarsgård, Malin Akerman e Shamier Anderson, entre outros.

Já renovada para uma segunda temporada, «Soulmates» precisará de mais do que marketing para voltar a ser bem-sucedida. E tem a matéria-prima para o conseguir.

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