Depois de alguns títulos que não correram bem, M. Night Shyamalan está de volta com «A Visita» — o autor de títulos como «O Sexto Sentido» e «Sinais» reencontra, assim, as matrizes originais da sua filmografia.

[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº31, Setembro 2015]

Face ao novo filme de M. Night Shyamalan, «A Visita», será difícil não pensar que o cineasta de «O Sexto Sentido» (1999) sentiu necessidade de corrigir a sua trajectória. De facto, mesmo não esquecendo que as qualidades artísticas dos filmes não se medem (nem compreendem) através dos respectivos números de bilheteiras, podemos supor que, depois das performances não muito brilhantes de «O Último Airbender» (2010) e «Depois da Terra» (2013), o lugar de Shyamalan terá ficado fragilizado no interior da grande máquina de Hollywood. Não foram desastres absolutos (o primeiro superou os 130 milhões de dólares nas salas dos EUA), mas o certo é que se contavam entre as produções mais caras da sua carreira (a Paramount investiu mesmo 150 milhões em «O Último Airbender»).

Nesta perspectiva, com os seus 5 milhões de dólares de orçamento (valor irrisório no contexto da produção média dos grandes estúdios), «A Visita decorre de um gesto de readaptação que, em qualquer caso, no essencial, passa pelo reencontro com as matrizes originais da sua filmografia. Não exactamente um regresso ao género de terror (cujas regras correntes pesam muito pouco nas estruturas narrativas de Shyamalan), antes uma aposta na reinvenção dos jogos de mise en scène que desafiam a percepção daquilo que, por definição, se apresenta como familiar.
Desde «O Sexto Sentido» a «O Acontecimento» (2008), passando por «Sinais» (2002) ou «A Vila» (2004), Shyamalan tem sido o retratista de universos mais ou menos familiares (comunitários talvez seja a palavra mais exacta), subitamente abalados pela possibilidade de desagregação. Ou melhor, pela intrusão de elementos fantasmáticos que, estranhamente, envolvem qualquer coisa de muito próximo e, sobretudo, muito íntimo.

M. Night Shyamalan
Shyamalan na rodagem de «A Vila» (2004)

«O Protegido» (2000) poderá parecer uma excepção, mas acaba por ser uma das ilustrações mais depuradas do universo temático de Shyamalan: não é verdade que o homem (Bruce Willis) que descobre que possui poderes sobre-humanos se apresenta, afinal, como um símbolo paradoxal da própria vulnerabilidade humana?

Algo de semelhante se poderá dizer a propósito de «A Senhora da Água» (2006), uma história situada no particularíssimo, e muito típico, universo de um aglomerado de apartamentos organizados em torno de uma piscina. O colectivo assombrado pela “senhora da água” constitui, afinal, um protagonista modelar das histórias de Shyamalan: a sua preservação passa pelo confronto com as forças enigmáticas da fábula. Ou ainda: a fábula não é o contrário da dimensão humana, antes um método de exploração das suas virtualidades e limites.

Com sucessos ou sem eles, não será por acaso que Shyamalan se tornou um nome que define um universo (à maneira clássica de um Hitchcock), como tal identificado por muitos espectadores. É uma proeza rara, sobretudo numa época em que os filmes mais ou menos fantásticos ou fantasistas tendem a ser rotulados através do lugar-comum dos “efeitos especiais”. Shyamalan, mesmo quando aplica técnicas sofisticadas, nunca menospreza o valor das suas personagens.

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