Shelter

SHELTER

SHELTER

O Amazon Prime Video estreou recentemente a série «Shelter», baseada na obra de mistério de Harlan Coben, publicada em 2011.

As séries de mistério, nomeadamente focadas em protagonistas jovens, têm sido uma das apostas recorrentes no streaming. A fórmula, não sendo complexa, consegue apresentar resultados (por vezes muito rápidos), criando um clima de curiosidade e tensão na audiência, que procura desfazer, progressivamente, o nó dado pela ação. Além disso, se – tal como acontece com «Shelter» – a história já tiver funcionado na literatura, há uma maior segurança no êxito da narrativa e, também, na sua lógica. Afinal, não há nada pior do que chegar ao final de uma série e não ficar convencido/a com o desenlace.

Para o sucesso de uma série muito contribui um bom episódio piloto – ainda que este tenha um peso mais significativo em séries em “testes” –, sendo que, em «Shelter», o espectador recebe um importante manancial de informação, terminando em suspenso, numa ação que tem a intenção clara de motivar a curiosidade da audiência. A narrativa cresce tanto – e para tantos lados – que, a certa altura, é difícil para o público antecipar para onde vai ser transportado.

O que, como bem sabemos, pode ser o segredo para o sucesso… ou o fracasso.

Vamos à história. Mickey Bolitar (Jaden Michael) prepara-se para uma nova vida com os pais, Brad (Kristoffer Polaha) e Kitty (Narci Regina), mas o sonho americano começa da pior maneira. O pai morre à sua frente e a mãe fica bastante fragilizada no hospital, pelo que Mickey vai morar com a tia, Shira Bolitar (Constance Zimmer). Com o futuro no basquetebol em risco, e os problemas típicos de um adolescente da TV numa nova escola, Mickey vai estabelecendo conflitos com colegas, com uma figura misteriosa do seu bairro e até com a autoridade.

A história tem como elemento muito importante a “Bat Lady”, interpretada por Tovah Feldshuh, a mãe de Rebecca em «Craxy Ex-Girlfriend». Numa casa sombria, que tem uma ligação ao passado de, pelo menos, Brad e Shira, a mulher idosa serve para aterrorizar os mais novos, mas o seu discurso, tenebroso, também influencia as expetativas de quem assiste. Será que Brad está mesmo vivo, como ela garante a Mickey? E, se sim, de que “forma”? Estamos perante uma trama sobrenatural ou um mistério bem humano?

Apesar do clima obscuro, a narrativa encontra alguma leveza em Arthur (Adrian Greensmith), um nerd desajeitado, e Emma (Abby Corrigan); embora no caso desta última exista uma storyline densa e pesada em paralelo. Também algumas situações pontuais do ambiente escolar se tornam cómicas, a espaços, com Mickey a ficar dividido entre o drama da vida de estudante e de tudo o que está a acontecer à sua volta. Será o grupo capaz de resolver um desaparecimento que aconteceu décadas antes?

Os diálogos contribuem para um ritmo mais acelerado, enquanto o universo visual e narrativo atribui uma maior profundidade (e carga) à cidade, aparentemente inofensiva, onde Mickey agora se move. Há igualmente um simbolismo significativo, nomeadamente ao nível do racismo e da rejeição social do que desconhece ou traz desconforto. «Shelter» estabelece-se, assim, em várias camadas, procurando dar resposta ao que cada uma delas exige das personagens. Do simples ao complexo, a série torna-se densa e, como tal, o maior desafio será dar o tal “nó” à ação que apresenta… e convencer a audiência.