Evocar tensão e tirar o tapete ao espetador. Em «Sacanas sem Lei», Tarantino iniciou essa sua tendência, quase como um tique. Fá-lo de forma artesanal, quase sempre num contínuo prazer de auto-evocação. Não estará no top 3 dos seus melhores filmes, mas é obra-prima do cinema de guerra dos últimos anos.
«Sacanas sem Lei» é o primeiro de Tarantino a brincar com o revisionismo histórico. A brincar ou a fabricar de forma estruturada e com reivindicação de direitos de autor. Quem vir agora «Era uma Vez em…Hollywood» vai perceber que talvez se trate de obsessão. E é ainda o primeiro filme de Tarantino a reforçar o seu amor por uma escrita em atos ou o cineasta não estivesse em constante ensaio conceptual com a respiração teatral.
A história de «Sacanas sem Lei» passa-se na Segunda Guerra Mundial e apresenta-nos um grupo de soldados dos Aliados que se junta com um plano para matar o líder dos nazis, Hitler. Tudo menos uma história verdadeira. Ou seja, a ficção ao serviço do delírio da justiça cinéfila.
Tarantino, mais do que um filme, ergue uma antologia de todo o seu estilo. Mais do que nunca, aperfeiçoa o limite da explosão emocional de cada cena e encena um discurso pós-moderno sobre a linguagem, mesmo quando o anacronismo do Inglês é a pedra de toque.
Para lá de tudo isto, «Sacanas sem Lei» é o filme de guerra a ir ao convento da cultura pop. E é sempre feudal a quem ainda acredita na arte do espanto.
Título original: Inglourious Basterds Realização: Quentin Tarantino Elenco: Brad Pitt, Diane Kruger, Eli Roth, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Michael Fassbender, Daniel Brühl Duração: 153 min. EUA, 2009
[Texto originalmente publicado na Revista Metropolis nº70, Agosto 2019]
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