É uma espécie de «Os Canhões de Navarone» mas ele desenrola-se no espaço, e troca os nazis do filme de Lee J. Thompson por soldados de armaduras brancas imaginados por George Lucas nos anos 1970. São os novos tempos… para o mundo e para Star Wars. Por isso, à boleia da revisão estética de Guerra das Estrelas, assinada por J. J. Abrams, a partir de «Star Wars: O Despertar da Força» (2015), surge uma nova linhagem de filmes, derivativos, fixados naquele universo dramatúrgico, começam a singrar fronteiras, para ampliar os domínios de Lorde Darth Vader no imaginário cinéfilo. «Rogue One», uma produção de US$ 200 milhões, rascunhada para ser um spin-off da segunda trilogia da série, desenrolada antes da longa-metragem de 1977. A maior das suas qualidades está no apuro da fotografia, a mais elegante e bem lapidada de toda grife fundada no final da década de 1970, com enquadramentos que valorizam – nos closes-up´s – as inquietações existenciais dos personagens, todos sempre em dúvida, menos Vader. Sim, o maior antagonista do audiovisual aparece – não se deve dizer onde – põe o filme no bolso e dá-nos uma das sequências de ação mais arrebatadoras da década.

Muito se tem falado sobre sua heroína, Jyn, encarnada protocolarmente (e nada mais) por Felicity Jones, como um exemplo do chamado “fortalecimento feminino”, que deu-nos a Imperatriz Furiosa de «Mad Max: Estrada da Fúria» ou a Rey de «O Despertar da Força». Mas é um exagero posicioná-la ao lado das duas, pois a ladina que deve surripiar os planos da Estrela da Morte (espécie de encouraçado indestrutível idealizado para esmagar a Aliança Rebelde) não tem o ónus trágico das personagens vividas por Charlize Theron e Daisy Miller, tão-pouco enverga o mesmo simbolismo político por elas imbuído. Jyn é a sombra de um homem, o seu pai, Galen Erso (o sempre inquietante Mads Mikkelson). Foi ele quem idealizou a tal Estrela e fugiu do Lado Negro da Força, para se isolar com a mulher e com Jyn onde não pudesse ter as suas ideias encontradas pelos acólitos do Imperador. Mas, por mais que tivesse tentado salvar o lado republicano do universo do Mal, ele tomba nas mãos do Dr. Orson Krennic, o novo e sinuoso ente maléfico da saga, encarnado por um dos mais instigantes atores atualmente da indústria: o australiano Ben Mendelsohn.

Ao se defrontar com ele, Galen acaba preso por anos a fio, concebendo o armamento definitivo (ou quase) de Vader. Tudo o que Jyn fará no filme inteiro é mediado pela ausência ou pela presença de Galen, como se ele fosse a sua bússola, o seu norte, o seu modelo. E na jornada para seguir os passos dele, ela alcança um devir heróico, mas não algo que fala apenas por si.

O mesmo não pode se dizer de Krennic, é uma espécie de encarnação do fracasso, mesmo ostentando uma presença ameaçadora. Capturar o pai de Jyn foi o seu único triunfo. Como oficial, é uma nódoa, sendo objeto de escárnio nas mãos dos seus superiores e na telepatia de Vader. Tudo o que faz acaba errado, mas os seus deslizes não atenuam a sua assertividade, a busca de tentar cumprir uma missão: impedir que a planta da Estrela da Morte seja roubada. Contradição viva, Krennic é um prato cheio para Ben Mendelsohn consolidar (e manter de pé) um Frankenstein simbólico, um emaranhado de sentimentos maus num corpo fraco. É uma atuação soberba para um filme que inicia a sua narrativa prometendo ser uma aventura Star Wars padrão e vira um «Platoon», com planos de batalha que só encontramos nos clássicos dos filmes de guerra ou nos seus derivativos mais saborosos – e de maior gosto a pipoca – as aventuras de guerra.

Título original: Rogue One Realização: Gareth Edwards Elenco: Felicity Jones, Diego Luna, Alan Tudyk. 133 min. EUA, 2016

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