Quase 20 anos depois, a HBO revisita, em três episódios, o escandaloso caso de major Charles Ingram, acusado de fraude após ganhar 1 milhão de libras no “Quem Quer ser Milionário”.

Lançada no Reino Unido em abril, a minissérie biográfica do canal ITV dividiu opiniões e voltou deixar uma dúvida no ar: terá Charles Ingram organizado um plano de mestre com a mulher Diana e Tecwen Whittock para vencer o grande prémio? Ou estará, afinal, inocente? «Quiz» chegou a Portugal segunda-feira, 1, e recordou as origens de um dos game shows mais populares das últimas décadas que, aliás, tem regresso agendado para breve na RTP.

Um livro, uma peça e agora uma série. James Graham, o autor da peça que esteve em West End, assumiu agora as funções de argumentista e, pela visão da lente de Stephen Frears (A Rainha, A Very English Scandal), levou a história da família Ingram a um público mais abrangente. No final da década de 90, “Quem Quer ser Milionário?”(QQSM) inverteu as tendências do que era feito em TV e conseguiu, ainda que com uma estrutura relativamente simples, agarrar milhões de britânicos e vender o formato internacionalmente. No entanto, a receita do sucesso assentava num ponto mais ou menos estabelecido: ninguém ganharia 1 milhão de libras. Fosse por pressão ou por azar momentâneo, as probabilidades pareciam estar contra os participantes.


Embora seja um programa bastante conhecido, a verdade é que a perspetiva que temos dos bastidores de QQSM em «Quiz» revelam um lado para muitos desconhecido. Não só a génese da ideia por parte da Celador – aqui na figura de Paul Smith (Mark Bonnar) e David Briggs (Elliot Levey) –, como a trupe que se formou em torno do game show. Além de técnicas e “ajudas” para chegar mais longe, o QQSM criou um autêntico culto – seja de pessoas que participavam insistentemente, como Adrian Pollock (Trystan Gravelle), ou jogadores “profissionais” que lucravam no apoio aos participantes.

Contra todas as probabilidades, e sobretudo por influência da mulher Diana (Sian Clifford, Fleabag), Charles Ingram (Matthew Macfadyen, Succession e Orgulho & Preconceito) acaba por se ver envolvido também no jogo. Desde início que sabemos o desfecho, mas é interessante ver a dinâmica entre as personagens, bem como o modo como o jogo de sucesso influencia os seus comportamentos e até as suas vidas pessoais. O verdadeiro Charles Ingram chegou mesmo a elogiar a série pela sua credibilidade, ainda que nem todos os visados tenham a mesma opinião. O “choque” com o apresentador Chris Tarrant (Michael Sheen) é, aliás, histórico.

Trata-se de uma série bem conseguida em termos narrativos, que se distingue sobretudo pela capacidade de “conversar” com uma audiência que tem todo este imaginário bem presente. Mais do que uma trama histórica, «Quiz» é uma abordagem de contexto, que estabelece o nascimento de uma popularidade grotesca dos game shows – que nalguns casos muito específicos ainda faz parte da realidade, sobretudo britânica e norte-americana, apesar da queda dos hábitos televisivos. Mas também do lado menos bonito da TV, suscetível à manipulação dos acontecimentos ou à ténue barreira entre a esperteza e o crime. A ver.

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