«Duelo no Missouri». É esta a resposta para a pergunta que muito provavelmente lhe vai ficar a ecoar na cabeça depois de sair da sessão de «Presos no Tempo». A única? Bom, a verdade é que, à boa maneira de Shayamalan, as muitas outras perguntas possíveis estarão quase todas muito bem esclarecidas antes que corram os créditos finais. Aliás, essa é uma das grandes diferenças entre o filme e a novela gráfica que lhe está na origem. Em Château de sable (de Pierre Oscar Levy e Frederik Peeters) não vamos achar explicação para quase nada e, estranhamente, isso acaba por ser muito mais satisfatório. Numa história que gira em torno da noção de “tempo”, parece-nos que a estranheza, o mistério e a dúvida são as notas mais adequadas.
«Presos no Tempo» apresenta-nos Guy (Gael Garcia Bernal), Prisca (Vicky Krieps) e os seus dois filhos, Maddox e Trent (interpretados por diferentes actores ao longo do filme). A família acaba de chegar a um luxuoso resort num destino exótico e, por sugestão do gerente do hotel, são encaminhados para uma praia exclusiva, só para “hóspedes especiais”. Às tantas os hóspedes especiais multiplicam-se e, antes que se possa postar uma foto decente no Instagram (até porque não há rede), começam a acontecer coisas muito esquisitas. O corpo de uma jovem é encontrado a boiar na água, um rapper famoso chamado Mid-Sized Sedan (Aaron Pierre) não pára de sangrar do nariz e as crianças parecem estar a crescer a um ritmo alucinante, tornando-se em poucas horas praticamente irreconhecíveis mesmo aos olhos dos próprios pais. À falta de melhor solução, o médico presente (Rufus Sewell) começa a insultar e a agredir o rapper que tenta fugir, sem sucesso. Ficamos então a saber que é impossível sair da praia e o tempo, já se sabe, não perdoa.
A premissa é muito interessante e estimulante, abrindo caminho à exploração de temas complexos como o envelhecimento, a força dos laços entre familiares ou a fragilidade dos corpos e da mente face à implacável passagem do tempo – no fundo, aquilo que Shayamalan já havia desenvolvido de forma genial em «A Visita» (2015). Desta vez, contudo, o realizador não conseguiu agarrar o potencial do material que tinha em mãos, desperdiçando-o em sucessivos incidentes que acabam por se anular uns aos outros. A artificialidade dos diálogos e das interpretações também não ajuda muito a criar empatia com as personagens e a sua situação. Surpreendentemente, o único que nos comove é talvez Charles, o médico racista e presunçoso que a pouco e pouco vai perdendo a noção da realidade e o controlo sobre as suas acções. Rufus Sewell é o responsável absoluto por esta interpretação brilhante, capaz de nos fazer rir e chorar, temer e odiar. É esta complexidade e subtileza, que infelizmente falta ao filme como um todo, que nos faz ficar a pensar como seria se a Sewell se juntassem Marlon Brando e Jack Nicholson… que filme seria esse?
Título original: Old Realização: M. Night Shayamalan Elenco: Gael García Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell. Duração: 108 min. EUA, 2021
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