Que acontece quando se passa das imagens da intimidade para o intimismo das imagens? Não é um mero trocadilho — o que está em jogo é a a dinâmica desse triângulo que se desenha (ou pode desenhar) entre actor, filme e espectador.
Actor ou, neste caso, actriz. Chiara Mastroianni, filha de Catherine Deneuve e Marcello Mastroianni não precisaria da confirmação do espelho para saber que os traços de amargura e alegria que perpassam no seu rosto evocam, ponto por ponto, ruga por ruga, o rosto do seu pai. O certo é que, agora, através da cumplicidade com o realizador Christophe Honoré (e, sem dúvida, o acordo de sua mãe), essa sublime semelhança se transfigura em poesia filmada.
“Marcello Mio” desenvolve-se como um fábula realista em que Chiara se decide chamar… Marcello — são memórias, não apenas de um tempo glorioso do cinema italiano, mas também de uma forma de cinefilia hoje em dia ameaçada pelo mercantilismo audiovisual.
João Lopes