“Les Graines du Figuier Sauvage” — eis uma tradução possível: “As sementes da figueira selvagem” — ficará como um dos símbolos mais fortes da 77ª edição do Festival de Cannes. O seu realizador, o iraniano Mohammad Rasoulof, fugiu do seu país, via Alemanha, para não voltar a ser preso e poder estar na Côte d’Azur a apresentar aquele que é um drama pungente sobre as formas de repressão no Irão e, muito em particular, as tensões emergentes depois da morte de Mahsha Amini (falecida em circunstâncias suspeitas, depois de ter sido presa por não usar o hijab de acordo com as regras definidas pelas autoridades governamentais).
Seja como for, importa acrescentar que “Les Graines du Figuier Sauvage” está longe de ser um panfleto esquemático. Estamos perante um notável objecto de cinema, além do mais capaz de expor o modo como uma determinada conjuntura política (e, neste caso, também religiosa) contamina o universo aparentemente estável de uma família “como as outras”.
Tudo isto sem esquecer que a subtileza narrativa de Rasoulof encontra um eco fundamental numa talentosa galeria de actores e actrizes — viva o grande cinema iraniano!
João Lopes