Post Tenebras Lux

POST TENEBRAS LUX

POST TENEBRAS LUX

Há luz depois das trevas. Ou o diabo passou por lá…Carlos Reygadas, desde «Japon» que não faz filmes normais. Um cinema sempre inconformista e sem efeitos nem tiques de repetição . Por exemplo, «Luz Silenciosa» não tinha nada a ver com a beleza gélida de «Batalha no Céu». Agora, vai para o campo em «Post Tenebras Lux». Para o México profundo e encontra uma família urbana que aí se foi refugiar. As crianças…os animais e o campim… a relação telúrica mas também o Mal, o Diabo literalmente. Alguém arranca a sua própria cabeça e tudo parece matéria de trovão. Coisa supostamente árida e selvagem. Claro que pelo meio há um magnetismo qualquer. A sua câmara tem força, tem fôlego. Mas não chega, no excesso não está o ganho. Como se o cineasta estivesse a querer publicitar á viva força a sua liberdade radical. Nada contras poetas visuais, mas não é Malick quem quer…(claro que Reygadas, como agora é moda, não o deva quer ser…).

A atraiçoar a beleza transgressiva que sai deste mergulho rural está a dificuldade em agitar a carga de trevas. O espetador nunca consegue assustar-se ou inquietar-se perante a descida ao tal inferno. Reygadas é sempre pomposo e leva tudo aquilo estupidamente a sério. Cai no ridículo, sim. Por muito que nos leve para um universo onde nunca tenhamos estado, nada daquilo nos interessa. Tanta dose aleatória de mensagem do tipo o diabo anda por aqui parece requentada, para dizer o mínimo. E o que fica do primeiro terço, um certo fulgor onírico e alquimista e atraiçoado sem dó nem piedade. Adivinha-se que a meio da rodagem tenha tido uma triste epifania. No fim, a moral é que para filmar o interior de uma família temos de filmar o interior das trevas. Só que as trevas aqui são sabotadas por uma visível falta de jeitinho artístico, são trevas remendadas, ofensivamente remendadas.

Um dia, sente-se, voltaremos a fazer as pazes com este mexicano. O seu naturalismo orgânico merece uma insanidade melhor direccionada…

Título original: Post Tenebras Lux Realização: Carlos Reygadas Elenco: Nathalia Acevedo, Adolfo Jiménez Castro, Rut Reygadas Duração: 115 min México/França/Holanda/Alemanha, 2012