«Planeta dos Macacos: A Guerra» foi um dos objectos mais inteligentes e perspicazes que passou pelos grandes ecrãs em 2017. Ao nível da narrativa, pode-se dizer que é uma obra contra a corrente. Em vários momentos funciona como um clássico mudo, onde as expressões e os diálogos dos símios dizem-nos mais do que mil palavras. “Guerra” fecha um ciclo iniciado em “A Origem”, 2011, é uma história de sobrevivência. Caesar (Serkis) tenta proteger o seu povo após um ataque que despoleta uma viagem de vingança e redenção onde o confronto também se dá no campo da identidade. A interpretação de Andy Serkis é extraordinária e merecedora dos maiores galardões da indústria. A nossa identificação emocional é evidente, e Serkis coloca-nos no âmago da alma do personagem. Mas o inglês não está só, todos os actores que conferem expressividade a vários personagens símios fazem um trabalho impressionante potenciado pela tecnologia de captura de movimentos. Num enredo digno de uma tragédia grega, as performances sem efeitos digitais são igualmente de topo. É o caso da pequena Amiah Miller (Nova), que carrega a centelha da humanidade, e Woody Harrelson (Coronel) com um desempenho arrepiante. O amor de uma criança e o ódio puro de um coronel encarregue de massacrar os macacos apresentam os dois lados do Homem, numa história que lida precisamente com o futuro da humanidade. Humanidade essa que se encontra na mais improvável das criaturas.
Título original: War for the Planet of the Apes Realização: Matt Reeves Elenco: Andy Serkis, Woody Harrelson, Steve Zahn. 140 min. EUA/Canadá/Nova Zelândia, 2017