PINÓQUIO

Seja por pura ganância ou a perspectiva de criar novos iniciados no ‘Maravilhoso Mundo de Disney’, os correntes admnistradores da Casa do Rato Disney têm nos últimos anos apostado na reciclagem em imagem real, do património de animação de clássicos que fizeram de Walt Disney o nome incontornável na arte animada. E não há nada mais clássico ou perfeito que o Pinóquio original produzido por Walt Disney e estreado nos inícios de 1940. Tecnicamente inovador e equilibrando na perfeição o drama, a magia e o humor, o filme levou a história de Carlo Collodi a níveis até então nunca atingidos na história da animação. Adaptada vezes sem conta ao cinema – só este ano temos três versões, a história do velho marceneiro Gepetto que sonha em ser pai, mas que devido à idade avançada decide antes criar um boneco de madeira que por magia da Fada azul ganha vida é um clássico absoluto que tem fascinado gerações consecutivas de crianças de todas as idades. Pinóquio revela-se algo ingénuo, irrequieto e indisciplinado não dando ouvidos aos bons conselhos de Gepetto e consequentemente mete-se em grandes sarilhos. Além disso, Pinóquio descobre que sempre que diz uma mentira, o seu nariz cresce de forma descomunal. Acompanhado pelo seu amigo o Grilo falante – a sua boa consciência, o boneco de pau parte à descoberta do mundo através de crescentes peripécias que de algum modo o vão pôr a par do que é ser um rapaz de carne e osso. Pinóquio é, de algum modo uma metáfora do que é ser humano, com todas as alegrias e perigos. Disney e a sua numerosa equipa fizeram uma adaptação perfeita do clássico italiano que delicia plateias e públicos variados desde a sua estreia. Porém esta versão reciclada de 2022, dirigida pelo veterano Robert Zemeckis, é outra história completamente diferente. Apesar das notáveis semelhanças gráficas com o filme de 1940, esta nova versão dir-se-ia que é um objecto sem vida. Pinóquio é alguém que quer devorar o mundo e a vida procurando ser como um rapaz verdadeiro, ele toma sistematicamente decisões erradas que o põem em elaborados apuros. Mas isso não acontece na fita de Zemeckis, que com a sofisticada animação digital reproduz quase plano a plano a narrativa de 1940. Talvez com o objectivo de agradar ao mais vasto denominador possível de público este filme faz do seu protagonista uma figura passiva que se limita a seguir os acontecimentos e não a protagonizá-los. A saga de Pinóquio, no seu todo, torna-o mais perto de ser um rapaz a sério, mas neste filme ele não é mais do que um mimo inconsequente composto de zeros e uns. Quanto ao elenco eles esforçam-se por dar credibilidade ao projecto, mas sem grande sucesso. Tom Hanks telefona a sua representação, sendo um dos desempenhos mais patéticos da sua carreira. Enfim mais um projecto mercenário da Disney actual, que decerto faz o velho Walt dar voltas na tumba. E daqui a nada temos uma Pequena Sereia woke, que é o que parece estar a dar, se bem que os resultados críticos e comerciais digam o contrário! Manuel C. Costa

Título original: Pinocchio Realização: Robert Zemeckis Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Tom Hanks, Benjamin Evan Ainsworth, Cynthia Erivo, Keegan-Michael Key, Sheila Atim, Luke Evans Duração: 105 min. EUA, 2022