OS TRÊS MOSQUETEIROS: MILADY

OS TRÊS MOSQUETEIROS: MILADY

«Os Três Mosqueteiros: Milady» é uma superprodução de sonho do cinema europeu e não desilude nem um bocadinho. O filme foi rodado em sequência com a primeira parte estreada em 2023. «Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan», introduziu os personagens e o universo de Dumas e focava o mistério do colar da Rainha. Além das histórias pessoais, a segunda parte tem como ponto de partida o cerco de La Rochelle e a possibilidade de usurpação do trono francês.

A França está dividida entre católicos e protestantes. O Rei Luís XIII (Louis Garrel) tenta evitar a todo o custo uma guerra civil. Enquanto na sua própria corte os ânimos estão à flor da pele com as conspirações do poderoso Cardeal Richelieu (Eric Ruf) sob o olhar atento do Capitão Tréville dos Mosqueteiros (Marc Barbé). A história tem esse elemento de mistério e intriga palaciana ao mesmo tempo que decorrem outras subtramas. É um enredo muito harmonioso onde as linhas narrativas fluem abundantemente e florescem para engrandecer o filme. Além da qualidade do clássico de Alexandre Dumas, o mérito desta excelente adaptação – uma composição sem falhas – vai toda para Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière. É uma dupla de argumentistas que ouviremos falar no futuro.

«Os Três Mosqueteiros: Milady» respira outro ar, não havendo necessidade de apresentações, temos o aprofundar da história da personagem mais interessante da obra… Eva Green devora o ecrã com a sua presença no papel de Milady. A anti-heroína deste filme é uma alegada vilã que iremos descobrir que ela própria foi vítima de vilanias no passado por ser uma mulher, leia-se, o elo mais fraco face à tirania e violência do marido. Nesta obra descobrimos a mecânica da sua reinvenção enquanto se esgrima para revelar a conspiração contra o monarca francês. Milady é uma femme fatale e utiliza a sua beleza para seduzir e o seu instinto para sobreviver.

A acção decore em 1627, um aspirante a mosqueteiro do Rei é o nosso fio condutor, D’Artagnan (François Civil) procurava uma vida de perigos e sonhava com aventura mas deparou-se com conspirações e a perda do seu principal amor. Constante (Lyna Khoudri), a aia da rainha, é raptada no final do primeiro capítulo. Vamos descobrir o porquê do seu rapto e D’Artagnan fará tudo para recuperar Constance. O caminho do Mosqueteiro cruza-se com o pragmatismo de Milady, afinal eles são ambos assassinos e quanto mais depressa D’Artagnan descobrir essa verdade, menos terá de sofrer com os seus actos.

O amor é protagonista central que ladeia os nossos heróis, os Mosqueteiros desafiam a morte em sequências de acção de encher a vista. As ligações afetivas de D’Artagnan, o passado de Milady (e a ligação a um dos Mosqueteiros), a camaradagem de Aramis (Romain Duris) com Porthos (Pio Marmaï), a lealdade, os remorsos e procura de redenção de Athos (Vincent Cassel, outra das figuras da obra) são laços essenciais para a coesão desta aventura épica.
A realização de Martin Bourboulon volta a abrir os horizontes aos espectadores com a introdução de mais sequências no exterior e coloca-nos também de cabeça no coração da acção. Há sequências que resultam, por exemplo, na opção de saltar de câmara ao ombro juntamente com os protagonistas da história (veja-se o salto da muralha para o fosso) mas outras tornam-se demasiado imperceptíveis nas lutas de capa e espada deixando a audiência “enrolada” com os protagonistas. Mas o filme corre que nem uma brisa, além dos actores que são a nata do cinema francês temos uma perninha de Vicky Krieps que dá o ar da sua graça no papel de Rainha. Em termos artísticos destaque para os figurinos maravilhosos de Thierry Delettre e a direção de fotografia de Nicolas Bolduc que optou por tons mais claros e brilhantes projectando uma sensação de magia de puro espectáculo cinematográfico.

«Os Três Mosqueteiros: Milady» equilibra perfeitamente a dimensão trágica da história com um ritmo fantástico da acção e aventura com os brilhantes actores liderados por uma deslumbrante Eva Green no papel da enigmática e antagónica Milady. Há muito tempo que não víamos um filme de capa e espada com esta dimensão, uma preciosidade a não perder nos cinemas.

Título original: Les Trois Mousquetaires: Milady Realização: Martin Bourboulon Elenco: François Civil, Eva Green, Vincent Cassel, Romain Duris, Louis Garrel, Vicky Krieps Duração: 115 min. França/Alemanha/Espanha/Bélgica, 2023

Fotos @Ben King