«Os Estranhos: Capítulo 1» é o início de uma promissora trilogia, um regresso a um terror atmosférico que faz os seus estragos num sólido filme de estreia.
Quando o primeiro capítulo desta saga termina uma das primeiras conclusões vai para o mérito do trabalho de realização que cumpriu a missão na perfeição de nos manter colados aos assentos. «Os Estranhos: Capítulo 1» transpira um clima de suspense com aquela noção que o mal está sempre à espreita. A obra possui uma tensão mais clássica do que um registo mais sanguinário. É um filme de terror com um conceito mais para assustar do que para chocar.
A atmosfera de velha guarda de «Os Estranhos: Capítulo 1» consegue fazer diferença nas actuais correntes do cinema de terror que continuam a ser um grande sucesso entre o público mais jovem. A história desenrola-se numa povoação no Oregon chamada Vénus mas que bem podia ser Mercúrio pela sua dimensão de 468 habitantes. É um lugar pacato em que as pessoas parecem ser estranhas ou talvez sejam apenas desconfiadas de outsiders. Maya (Madelaine Petsch) e Ryan (Froy Gutierrez) namoram há cinco anos, apaixonados na sua relação eles parecem estar prestes a dar o próximo passo mas mal sabiam que este poderia ser fatal… Maya é arquitecta e vai a caminho de Portland para começar um novo emprego, quando o casal passa por Vénus estacionam num café para uma refeição rápida. Quando se preparam para partir o seu SUV eléctrico não arranca e eles são forçados a pernoitar num Airbnb isolado na floresta.
Um dos principais aspectos deste filme é a qualidade da sua realização e não foi uma pessoa qualquer que esteve por detrás das câmaras. A obra foi realizada pelo finlandês Renny Harlin, um dos maiores nomes do cinema comercial dos anos 1990. Harlin teve anos gloriosos de cinema de entretenimento com sucessivos êxitos: «Die Hard 2 – Assalto ao Aeroporto» (1990), «Assalto Infernal» (1993) com Stallone, a diversão dos piratas em «A Ilha das Cabeças Cortadas» (1995), «A Profissional» (1999) com Samuel L. Jackson e Geena Davis com argumento de Shane Black (!) e «Perigo no Oceano» (1999) que retomou a mania dos tubarões no final dos anos 1990.
A premissa do carro avariado, um casal perfeito, pessoas estranhas e psicopatas a empunhar machados não é nada de novo neste género mas o que distingue é aquilo que se faz com os ingredientes em questão. Além da realização de Renny Harlin, a música de Justin Caine Burnett é antológica e tensa, a direção de fotografia José David Montero tem aquela sedução mortal e os actores desempenham eficazmente os seus papéis. Estes ficaram a cargo de mais uma estrela de «Riverdale» a despontar para o mundo (a seguir as pisadas de Camila Mendes). Madelaine Petsch contracenou com Froy Gutierrez, actor que entrou na primeira temporada de «Cruel Summer», um interessante thriller televisivo. Neste filme formam como um casal romântico que vai vendo a sua vida a andar para trás com a aproximação de uma ameaça na penumbra que se vai tornando cada vez mais real e aterradora.
«Os Estranhos: Capítulo 1» foi baseado numa obra homónima de 2008 realizada por Bryan Bertino com Scott Speedman e Liv Tyler. O primeiro filme é semelhante à obra original, mas os restantes capítulos prometem navegar em território desconhecido. Esta trilogia já foi filmada na íntegra na Eslováquia e vai estrear nos cinemas até ao início de 2025. Podemos estar enganados, mas a trilogia parece que terá um momento onde os papéis se invertem (onde a presa se torna o caçador) mas até lá aguardamos impacientemente pelos próximos capítulos…
Título original: The Strangers: Chapter 1 Realização: Renny Harlin Elenco: Madelaine Petsch, Froy Gutierrez, Rachel Shenton Duração: 91 min. EUA, 2024
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