Os Caçadores de Tesouros

OS CAÇADORES DE TESOUROS

OS CAÇADORES DE TESOUROS

O título português do novo filme de George Clooney (é a quinta vez que ele assume as tarefas de realização) pode arrastar uma sugestão equívoca. De facto, não estamos perante uma aventura mais ou menos artificiosa, passada num contexto lendário ou mitológico — nem Hércules nem Indiana Jones… Bem pelo contrário: «Os Caçadores de Tesouros», no original «The Monuments Men», recorda a odisseia bem verídica, intensamente dramática, de um pelotão de oficiais dos EUA que, nas semanas finais dos combates da Segunda Guerra Mundial, tentaram recuperar as valiosíssimas obras de arte que os nazis tinham roubado, visando, em particular, aquilo que seria um gigantesco “Museu do Führer”.

Baseando-se num estudo do historiador Robert M. Edsel, intitulado precisamente “The Monuments Men” (editado em 2009), Clooney não deixa, por isso, de reconhecer as potencialidades espectaculares do tema. Aliás, o livro de Edsel tem um subtítulo que vale a pena recordar: “Os heróis aliados, os ladrões nazis e a maior caça ao tesouro da história”. Dito de outro modo: este é um filme de guerra em que o essencial decorre, não exactamente das estratégias das tropas em combate, mas do amor pela arte e pelo trabalho dos artistas. Daí a sua respiração insólita, quase intimista, mesmo quando as personagens são confrontadas com cenários de pura devastação.

Certamente não por acaso, o filme abre com uma conversa de Frank Stokes (Clooney), o oficial que vai comandar o grupo de resgate, com o Presidente Roosevelt (Michael Dalton) — em discussão estão os riscos humanos que o empreendimento envolve e, em última instância, o seu valor político. No fundo, trata-se de saber como enquadrar a preservação das maravilhas da criação artística num contexto em que, de forma muito pragmática, as prioridades são de outra natureza.

O filme acaba por funcionar, menos como uma história linear, mais como uma colecção de experiências pessoais cristalizadas nas diferenças de atitude e temperamento das personagens centrais. Este é, afinal, um universo predominantemente masculino em que, por isso mesmo, a solitária personagem feminina — Claire Simone, a curadora interpretada pela sempre subtil Cate Blanchett — adquire enigmáticos contornos simbólicos, dir-se-ia redentores.

Escusado será dizer que Clooney sabe tirar o máximo partido do seu invulgar elenco, inclusive integrando “estrangeiros” como Hugh Bonneville («Downton Abbey») ou Jean Dujardin («O Artista») num trabalho de discreta, mas intensa, complexidade emocional. Aliás, para além da sua elegante narrativa, «Os Caçadores de Tesouros» resulta do labor de uma equipa de invulgar talento, em que podemos destacar o director de fotografia Phedon Papamichael e o compositor Alexandre Desplat — sem esquecer que o simpático Emile, o camponês que recebe em sua casa James Granger (Matt Damon), é interpretado pelo próprio Desplat.

Título original: The Monuments Men Realização: George Clooney Elenco: George Clooney, Matt Damon, Bill Murray, Cate Blanchett, John Goodman Duração: 118 min EUA, 2014

[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº17, Fevereiro 2014]