O sueco Ruben Östlund tem esta capacidade de provocar uma certa inquietação que abala as convicções do espectador. Em «Força Maior» utilizou uma ocorrência inesperada para desafiar a robustez dos laços familiares, enquanto que em «O Quadrado», filme premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, perpetua uma série de ocorrências que suscitam insegurança e estranheza.
O filme é desenvolvido como uma sátira da vida moderna a partir de uma instalação no Museu de Estocolmo que desafia o código moral dos visitantes, convidando-os a seguir determinados percursos mediante a confiança que sentem nas pessoas. Christian, o curador, não sabe como promover a instalação e contrata um grupo de especialistas de marketing e redes sociais que concebem uma campanha muito agressiva e que provoca um efeito contrário ao pretendido.
A organização e divulgação de uma instalação artística que pretende celebrar o altruísmo no mundo contemporâneo é apenas um dos capítulos na vida bem sucedida de Christian – ele acompanha as filhas nas suas rotinas, envolve-se de forma emocional com uma jornalista norte-americana que parece querer engravidar a todo o custo, perde o telemóvel e desencadeia um processo de identificação do ladrão que levanta suspeitas sobre pessoas inocentes.
A vida de Christian é aparentemente organizada mas ele vive no labirinto das suas próprias ações que são geradoras de novos problemas e parece que nunca encontra uma boa saída para as decisões que toma, mesmo quando parecem ajustadas ao senso comum do espectador.
Östlund perpetua esta tragédia cómica em diversas situações, espécies de quadros que permitem caraterizar personagens interessantes mas não traçam um fio condutor narrativo consequente, e vai aprofundando a sua reflexão em torno do papel e do sentido da arte contemporânea. O filme é um quadrado, uma moldura para uma ideia conceptual que sustenta o ponto de vista do realizador sobre o vazio da arte e de uma vivência cosmopolita. É certo que ele nos desafia em diversos momentos mas não consegue fazer a quadratura do circulo, ou seja, esgota-se na reflexão ilustrativa e artificial algo extenuante que pretende promover.
Título original: The Square Realização: Ruben Ostlund Elenco: Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West. 142 min. Suécia/Alemanha/França/Dinamarca/EUA, 2017
[Crítica publicada na revista Metropolis nº55, Janeiro 2018]