Mesmo sem extras, «O Profundo Mar Azul» é um acontecimento fundamental na área do DVD. Desde logo, porque a sua passagem pelas salas foi discreta e efémera; mas sobretudo porque o cinema de Terence Davies continua a existir como um continente autónomo no interior da produção britânica e, em boa verdade, de todo o espaço europeu.
Estamos, afinal, perante o universo metódico e obsessivo do mesmo realizador de «Vozes Distantes», «Vidas Suspensas» (1988) ou «Aqueles Longos Dias» (1992). O melodrama evoca a história da Grã-Bretanha em meados do séc. XX e a música revela-se uma componente fundamental de toda a dramaturgia. Assim volta a acontecer em «O Profundo Mar Azul», encenando a relação da mulher de um respeitado juiz com um ex-piloto da RAF. Dir-se-ia que Davies filma à margem da tradição que celebra, já que o crescente intimismo da sua história vai a par de uma multiplicação de calculados artifícios de mise en scène (sendo a música, justamente, uma das suas vertentes mais importantes).
Há uma ironia desconcertante em tudo isto: na pátria do realismo (britânico), Davies trabalha a partir dos recursos específicos do estúdio, assim se ligando que a uma frondosa tradição – ele é, afinal, um dos mais legítimos herdeiros das produções dos anos 40/50 assinadas pela dupla Michael Powell/Emeric Pressburger.
Título original: The Deep Blue Sea Realização: Terence Davies Elenco: Rachel Weisz, Tom Hiddleston, Simon Russell Beale Duração: 100 min Reino Unido, 2011
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº13, Outubro 2013]
https://www.youtube.com/watch?v=MIQR_99II3k