[Texto originalmente publicado na Revista Metropolis nº43, Novembro 2016]
Nesta altura, futuro está nas mãos de Denis Villeneuve. O realizador canadiano está a rodar a sequela de Blade Runner, intitulada «Blade Runner 2049», que estreará em outubro de 2017, e um ano antes propõe uma viagem futurista que é aguardada com expectativa porque nos permite antever o que ele consegue fazer com o género. «Primeiro Encontro» deixa-nos tranquilos em relação ao podemos esperar do desenvolvimento de «Blade Runner» porque é um filme de ficção científica que não depende dos efeitos visuais para criar impacto, nem necessita de sequências espantosas de ação para suportar a narrativa. Villeneuve não inventa um futuro nunca visto em cinema e realiza o seu filme tendo consciência de que esta história já foi contada. Em «Primeiro Encontro» imagina como seria o contacto entre a humanidade e uma raça alienígena que se instala na terra para estabelecer diálogo. São doze naves suspensas, que parecem seixos gigantescos, em doze países diferentes. Ameaça? Até onde estão dispostos a ir? Porque escolheram a Terra? As questões habituais adensam a trama e para encontrar as responder seguimos dois académicos, Ian e Louise, um especialista na área da matemática (Jeremy Renner) e uma linguista (Amy Adams). O filme deve ser emprateleirado ao lado de «Encontros Imediatos do Terceiro Grau», obra seminal de Steven Spielberg sobre as relações entre humanos e alienígenas, e «Contacto», de Robert Zemeckis, que aprofunda o tema com uma dimensão espiritual. Já vimos este encontro mas a visão que proposta é ligeiramente diferente e estimulante. «O Primeiro Encontro» aprofunda o tema da comunicação e da capacidade científica que a humanidade terá para entender as mensagens que os alienígenas desenham através de símbolos complexos, semelhantes a hieróglifos, e que revelam ter uma estrutura linguística não linear extremamente complexa. O tempo corre contra a capacidade de aprender esta língua e descodificar a mensagem, algo que é acentuado de forma óbvia quando as principais nações, Rússia, Estados Unidos e China, revelam abordagens diferentes do problema. Paralelemente ao tema principal, seguimos o drama interior de Louise que vive atormentada pela morte da filha, que lutou contra um cancro até aos 12 anos. Villeneuve vai sobrepondo os avanços que se estabelecem na comunicação com as memórias pessoais da protagonista, criando dois círculos narrativos distintos que se sobrepõe numa complexa experiência de comunicação. Desta forma, desenvolve com enorme elegância visual, uma trama adulta, muito cerebral, adensando sempre a tensão que se exige num filme de ficção científica, e tocando de forma efetiva algumas notas sobre o amor e a dor. «O Primeiro Encontro» é um filme original porque nos confronta com os limites da nossa comunicação e envolve-nos nesse processo enquanto espectadores.
Título original: Arrival Realização: Denis Villeneuve Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker, Michael Stuhlbarg, Tzi Ma Duração: 116 min. EUA/Canadá, 2016
https://www.youtube.com/watch?v=tFMo3UJ4B4g