Em «O Primeiro Dia da Minha Vida» quatro pessoas estão prestes a colocar termo à vida. Arianna (Margherita Buy) é uma agente policial, que vive uma dor insuportável depois de perder alguém muito importante; Napoleone (Valerio Mastandrea) é um motivador profissional que não consegue manter-se motivado para se agarrar à vida; Emília (Sara Serraiocco) é uma ginasta que se encontra numa cadeira de rodas; e Daniele (o estreante Gabriele Cristini, de 12 anos) é um jovem influenciador de Youtube com peso a mais e vítima de bullying. Toni Servillo (o maravilhoso protagonista de «A Grande Beleza») surge como uma personagem sem nome, um misterioso “anjo”, que reúne estas quatro pessoas no seu carro, precisamente na noite em que todos decidem, sob uma chuva torrencial, acabar com a vida na terra.
Sem saberem se estão vivos ou já mortos, este é o início de uma viagem sobre o que acontece depois da sua morte, a forma como os outros encaram a sua partida e, sobretudo, sobre as possibilidades que o futuro e o destino podem reservar.
Baseado no romance homónimo do realizador Paolo Genovese, que se tornou um best-seller em Itália, «O Primeiro Dia da Minha Vida» gira em torno destas quatro personagens que, no final da semana, têm uma segunda oportunidade e podem decidir entre viver ou morrer. Segundo o realizador, o livro não foi escrito com o intuito de ser transformado em filme. Na verdade, e de acordo com entrevistas do mesmo, começou a escrevê-lo por uma vontade urgente de contar uma história, sem ter que esperar orçamento, produção, atores, e pelo facto de o poder fazer de forma “gratuita”. Só depois de sentir o impacto da história em algumas pessoas pensou em fazer o filme, embora tivesse planeado primeiramente fazê-lo em Nova Iorque com um elenco internacional.
Num enquadramento teatral por uma Roma diferente da que estamos habituados a ver, um registo no qual Genovese se move como um mestre, a história ganha contornos de atos num palco que não nos deixa embalar numa cadência mais cinematográfica, mas esse parece ser o objetivo do realizador. Em cenários de tom pastel, é exigido ao espectador que reflita sobre o que está para além do trabalho do ator ou do argumento – que não deixa de ser previsível e fraco na exploração das causas que levam as personagens ao desespero de acabar com a vida. O realizador italiano está mais interessado em trazer uma reflexão sobre questões profundas sobre a vida, sobre o foco nas pequenas coisas, sobre o que nos move e o que nos trava. Afinal, quantas pessoas são realmente felizes, num universo tão extradimensional? Poderá o amor do outro salvar-nos?
A verdade é que apesar de por vezes viver ser cansativo, a vida continuará sempre e nunca saberemos o que nos reserva se decidirmos ficar, mesmo quando todas as portas parecem estar fechadas e o maior impulso seja “pular da ponte”. Mas no final, ninguém nunca poderá decidir se o salto faz sentido ou não. Essa luz só pode ser “acesa” de uma forma: por dentro e pelo próprio.
Título original: Il primo giorno della mia vita Realização: Paolo Genovese Elenco: Gabriele Cristini, Margherita Buy, Sara Serraiocco, Toni Servillo, Valerio Mastandrea, Vittoria Puccini Duração: 121 min. Itália, 2023
https://www.youtube.com/watch?v=oWElOMT3j9w