Charley tem 15 anos. Tem 16 anos. Tem 18 anos. Tudo depende da situação em que se encontra: se está à procura de trabalho, a tentar passar aos outros a ideia de que pode tomar conta de si, ou sozinho em frente ao espelho. Nas suas feições de menino pesam as marcas de uma responsabilidade demasiado grande. Abandonado em criança pela mãe e a viver com um pai alcoólico e negligente, de facto, Charley (Charlie Plummer) teve muito cedo que aprender a sustentar-se, a defender-se e, não menos importante, a distinguir por ele próprio o bem do mal.

Adaptação do livro homónimo de Willy Vaultin, «O Meu Amigo Pete» é um filme carregado de dramatismo, onde a cada esquina espreita mais uma provação terrível. Charlie Plummer, o jovem astro no papel principal, oferece-nos, contudo, uma interpretação credível e subtil. Não é, por isso, culpa sua que o filme não chegue nunca a comover-nos verdadeiramente. Com o correr dos créditos finais sobra a simples pena como sentimento dominante. A atitude “desinteressada” da câmara, que mantém com as personagens uma espécie de distância de segurança, não contribui aqui para um qualquer efeito de revelação. Curiosamente, essa mesma atitude aplicada ao retrato do espaço resulta muito mais pungente.

Andrew Haigh («45 Anos», 2015) é um realizador inglês a filmar uma espécie de western ao contrário: o nosso herói solitário abandona o Oeste selvagem ao lado – e nunca montado – num cavalo em direcção a Este, em busca de segurança na figura materna e idealizada de uma tia perdida. Durante esta dura travessia, que vai de Portland, Oregon a Laramie, Wyoming, observamos paisagens míticas, imutáveis, um cenário com ecos de um tempo que passou e onde ficaram presos aqueles que já não sonham com o progresso ou com o que quer que seja. Exemplo disso é Del (Steve Buscemi), um treinador de cavalos caído em desgraça que agora droga os seus animais para os fazer correr mais depressa.

A crueldade deste mundo é mais visível no pó que se levanta à passagem dos cavalos dopados do que na sucessão de tragédias que inutilmente adensam a trama. Teria beneficiado o filme se Andrew Haigh, que além de realizar também escreveu o argumento, tivesse optado por exercer maior contenção a este nível. Mesmo a ligação especial de Charley com Pete, o cavalo que dá nome ao filme, sai prejudicada pelos vários solilóquios do rapaz, onde ele lembra com emoção momentos da sua infância junto da tia. É, pois, lamentável que o reencontro dos dois não corresponda ao clímax que esperávamos.

Com todas as suas fragilidades, «O Meu Amigo Pete» é um filme de momentos excepcionais.

*«O Meu Amigo Pete» está em exibição na HBO Portugal.

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