Sacha Baron Cohen não se limita apenas a disparatar com o seu humor feito de incongruências e situações absurdas. Em «O Ditador», à semelhança do que fez em «Borat», o cómico volta a satirizar os vazios racionais da realidade americana, neste caso usando como termo de comparação os regimes totalitários, onde o próprio Cohen provavelmente ficaria impedido de estar perto de uma câmara de filmar… isto se ainda não tivesse desaparecido misteriosamente.
No referido «Borat» e ainda em «Bruno» houve uma abordagem de efeito surpresa perante algumas reacções espontâneas entre intervenientes reais e os personagens ficcionais à solta no mundo real. Em «O Ditador» o factor surpresa desaparece para dar lugar a um enredo em torno de um déspota com ecos ao norte de África e Médio Oriente, que cobre as tendências erráticas de outros lugares como as selvas do Zimbabué e os cumes da Coreia do Norte. O prólogo desenrola-se na sua terra Natal, a ficcional Waadeya, um país rico em petróleo onde Aladeen (Cohen) governa com uma pancada desconcertante (os gags são hilariantes e não interessa revelar). Posteriormente, a narrativa muda-se para Nova Iorque e o ditador torna-se num homem comum com uma grande tara, mas a sua missão é desmascarar os planos do tio Tamir (Ben Kingsley) e do sósia de Aladeen, tendo o auxílio de um dissidente chamado Nuclear Nadal (Aasif Mandvi).
Nesta última trip à nação americana (uma fórmula que precisa se reinventar rapidamente), há por vezes toques de talento do cómico britânico com “gags situacionais que levam mais além situações reais. O humor de choque não conhece barreiras, com tiradas raciais, sexuais e ao 11 de Setembro, por entre muitos outros absurdos. Por vezes, na estupidez encontra-se a genialidade, pecando somente por um excesso na repetição do gag, o que desgasta a primeira punchline. E como nas sequências românticas Cohen é um peixe fora de água, nota-se a preferência por desenvolver essas cenas para caminhos mais bizarros. Destacam-se ainda Anna Faris (em modo type casting), Ben Kingsley (divertido ao ser deslocado da sua veia dramática) e Aasif Mandvi (o cúmplice explosivo). Um “tributo” descabido e cheio de humor que deixará os fãs rendidos à ofensiva deste “ditador”.
Título original: The Dictator Realização: Larry Charles Elenco: Sacha Baron Cohen, Anna Faris, Ben Kingsley. Duração: 83 min EUA, 2012
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº3, Novembro 2012]