A produção com o selo Netflix «O Céu da Meia-Noite» possui uma sólida realização de George Clooney («Boa Noite, e Boa Sorte», «Suburbicon») num filme que mescla a perseverança humana com o espetáculo da ficção científica. «Midnight Sky» foi baseado no livro de Lily Brooks-Dalton ‘Good Morning, Midnight’ tendo sido adaptado para cinema por Mark L. Smith o argumentista de «The Revenant: O Renascido» (2015).
«O Céu da Meia-Noite» arranca num modo intimista e vai crescendo a cada minuto, dialoga com o passado e o presente e a acção desenrola-se entre a Terra e o Espaço. A Terra em 2049 está no decurso de um evento de extinção, o protagonista Augustine Lofthouse (George Clooney) é um cientista que fica para trás durante a evacuação da sua base no Círculo Polar Ártico. A missão de Augustine é alertar uma nave espacial enviada para comprovar a possibilidade de vida numa lua de Júpiter que não deverá regressar à Terra, pois são a última esperança da humanidade. Augustine tem os dias contados não só devido à radiação que se alastra pela Terra como pela sua doença terminal. A bebida, os medicamentos e as transfusões de sangue são os últimos cartuchos de que dispões naquela que é a sua derradeira missão. No decurso da demanda de Augustine este encontra no interior da base polar outro elemento que ficou para trás, uma adorável criança que não diz uma palavra mas desenha o seu nome num papel, é a Iris. A criança tem um registo absolutamente adorável, a jovem actriz, Caoilinn Springall, quebra o gelo apenas com as suas expressões. Augustine e Iris são forçados a sair da base cientifica e partem numa jornada contra os elementos naturais e os demónios pessoais para uma base mais remota no Círculo Polar Ártico que possui uma antena mais potente que permita comunicar com a nave espacial.
Pelos assertivos flashbacks de Augustine percebemos que ele abriu mão da sua vida pessoal e familiar para dar uma alternativa ao mundo: a possibilidade de vida na lua de Júpiter, que foi descoberta pelo protagonista. Ethan (neto de Gregory) Peck, numa curta performance pautada pelo charme, interpreta a versão com menos 30 anos de Augustine Lofthouse.
O filme é a obra mais audaz e complexa dirigida até à data por Clooney. Visualmente é expressiva e tem boas sequências de acção de homem versus os elementos, possuindo sempre uma boa dinâmica na narrativa. «O Céu da Meia-Noite» é um drama pessoal e humano com um pano de fundo de uma epopeia de ficção científica, em que a mecânica ou a plausibilidade dos eventos não me preocuparam muito. Além do magnífico trabalho de produção de Jim Bissell (os cenários são cristalinos e envolventes), o que me ficará na retina é a viagem pessoal motivada pelos sentimentos, a vida e a morte, o remorso das escolhas, a dor da ausência e sobretudo a redenção na procura do amor entre pais e filhos.
Título original: Midnight Sky Realização: George Clooney Elenco: George Clooney, Felicity Jones, David Oyelowo, Kyle Chandler, Demián Bichir, Sophie Rundle, Ethan Peck. Duração: 118 min. EUA, 2020