«O Assassinato de Kenneth Chamberlain» é uma obra baseada em factos verídicos. Uma produção com um orçamento modesto, mas sentimentos poderosos. O público é brindado com uma interpretação vinda do fundo do poço de Frankie Faison, no papel de Kenneth Chamberlain – não deve ter sido fácil –, explorando o terror e a tragédia real. A realização e a escrita pertenceram a David Midell. Após a conclusão do filme, Morgan Freeman juntou-se ao projecto como produtor executivo para conseguir que a obra tivesse distribuição nos EUA.
O filme foca os últimos 90 minutos da vida de Kenneth Chamberlain, um homem negro de 68 anos, veterano dos Marines. Em 2011, em Nova Iorque, Kenneth aciona acidentalmente o seu alarme de emergência médica. A polícia é chamada ao local para constatar se Kenneth estava bem de saúde. Ele não deseja abrir a porta, com receio da polícia, e a situação fica descontrolada. A narrativa é frenética e com os nervos à flor da pele perante uma encenação realista e de câmara ao ombro entre o stress dos agentes, a perturbação mental de uma pessoa doente e a indiferença perante a lógica.
Os agentes são preconceituosos e não têm a formação adequada para lidar com uma situação de um homem com um historial de problemas mentais. O filme descreve o acontecimento e acelera as pulsações do espectador quando uma pessoa que devia ser tratada como um doente é tratado como um suspeito. A situação não era um crime até a polícia provocar o crime. «O Assassinato de Kenneth Chamberlain» é uma excelente obra para compreender a génese discriminatória de um historial trágico de atos de violência policial nos Estados Unidos contra os cidadãos negros.
Título original: The Killing of Kenneth Chamberlain Realização: David Midell Elenco: Frankie Faison, Steve O’Connell, Enrico Natale Duração: 83 min. EUA, 2019
[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº104, Março 2024]
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