O filme em questão iniciou a sua marcha de fenómeno cinematográfico no Verão de 2007, aquando a estreia de «Transformers» sobre forma de um teaser o filme sem nome criou um buzz descontrolado entre os fãs das emoções fortes. Muitos rumores sobre a “coisa” que aparecia no ecrã criou as mais diversas teorias da conspiração no ciberespaço, rodeado de grande segredo Cloverfield nome de trabalho que mais tarde impôs-se como titulo da obra, por culpa dos entusiastas, chegou às salas a 24 de Janeiro de 2008, um mês habitualmente composto pelas estreias dos concorrentes aos Óscares.

O dispositivo foi criado a partir de uma ideia de J.J Abrams que assumiu o papel de produtor (o patrão) do filme, é auxiliado pelo seu circulo de amigos e criadores, Drew Goddard assinou o argumento e era escriba regular de «Lost – Perdidos», escreveu um enredo pessoal próximo dos medos do espectador; Matt Reeves realizou e era amigo de infância de Abrams, em tempos produziu com ele «Felicity» (1998), uma série televisiva de culto. Os três criaram um monstro, um caso gritante de ideias simples que faziam uma grande mossa nas convenções. Este “anti” blockbuster tornou-se um favorito entre as audiências que se conectaram facilmente ao conceito, um quotidiano definido pelas coexistências das câmaras incorporadas nos gadgets à nossa volta. O indivíduo é o repórter na nova era, são as filmagens que fazem a diferença dando a conhecer ao mundo visões não editadas dos acontecimentos. «Nome Código: Cloverfield» fez pelos monstros o que «O Projecto Blair Witch» (1999) fez pelas bruxas.

«Nome Código: Cloverfield» é um exercício de cinema apocalíptico com uma câmara na mão, uma perspectiva digital e pessoal do acontecimento catastrófico filmado inteiramente na primeira pessoa o que vemos é o que o personagem mostra através da câmara que raramente a larga. Mas longe do conceito de videojogo o argumento não se esquece que por detrás da câmara está uma pessoa e à sua volta estão os seus melhores amigos, assim dedicam-se os primeiros 20 minutos de filme a conhecer os personagens. Rob (Michael Sthahl David) está de partida para o Japão e depara-se com uma festa de despedida ao chegar a casa, é organizada pela namorada do irmão (Jessica Lucas), na festa também se encontra Beth (Odette Yustman). A troca de olhares entre Rob e Beth é reveladora da química amorosa, um passado que está precisamente na câmara de filmar. A fita que agora está a ser apagada pela gravação dos acontecimentos desta noite, com a câmara em pausa ou fechada temos direitos a uma história de amor não editada, que vai sendo substituída pelo terror que se avizinha. O cameraman de serviço é Hud (T.J Miller) que não é profissional, assume-se no registo a posição de narrador activo, a câmara torna-se uma extensão do seu corpo. É uma ideia brilhante a gravação na câmara no presente e no passado que irá definir o espírito da narrativa. Todas as festas têm um fim esta tem um tremor de terra seguida da famosa e perturbadora sequência (vista no trailer) da decepada cabeça da estátua, a liberdade tombou em plena Manhattan. A entidade que surge no ecrã não é totalmente visível pelo nosso cameraman a nível do solo percebe-se que é algo monstruoso, substitui-se a imagem pelo som. A realização só nos dá outros vislumbres da criatura quando os personagens olham boquiabertos para as imagens dos serviços noticiosos, são poucas as pausas do filme que nos servem para matar a curiosidade face à criatura devastadora, a visão omnipresente raramente aparece no filme. Repare-se no detalhe e no realismo da destruição, a queda da ponte ou dos prédios são um caso de destruição plausível. O realismo remonta às nuvens de fumo e ao horror dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001. É uma memoria que possibilita o aumento da tensão nos espectadores é um filme que manipula estes medos da vida pós 9/11, a incerteza de um mostro que não pode ser controlado pelo Estado e Cloverfield aborda mais as dinâmicas de grupo de pessoas comuns do que propriamente o monstro. A palavra de ordem é a incerteza “seja o que for está a ganhar” mas é nesse momento que o filme faz mais uma incursão natural do ponto vista humano no intimismo do personagem, Beth está presa no meio do ground zero e Rob opta por ir resgata-la não porque é um herói mas porque está apaixonado por alguém que não quer perder. São as constantes motivações dos personagens na busca da salvação de alguém próximo que os fazem enfrentar os perigos de uma cidade sobre sítio.

«Nome Código: Cloverfield» redefiniu um género, está cheio de adrenalina é hiper intenso e encena habilmente a espontaneidade. Não há briefings militares, mensagens de presidentes ou explicações de cientistas que descobriram a solução para acabar com a ameaça, só resta o caos e a sobrevivência a todo o custo, não há heróis apenas um grupo que deseja viver, reminiscências de «Lost – Perdidos» a mais famosa criação de Abrams. O filme incorre como muitos outros trabalhos do produtor no espírito do irreal nos medos para os eventos sem explicação, a “área 51” mudou-se para Manhattan e a audiência faz parte do filme é a sensação 3D sem os óculos. Seja qual for a opinião, dificilmente consegue-se escapar a Cloverfield.

Título original: Cloverfield Realização: Matt Reeves Elenco: Mike Vogel, Jessica Lucas, Lizzy Caplan. 85 min. EUA, 2008

[Texto originalmente publicado a 24 de Janeiro de 2008 no site Cinema2000]

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