[Crítica originalmente publicada na revista Metropolis nº20, Junho 2014]

Sinal dos tempos: a proliferação de “blockbusters” de “super-heróis” terá tornado alguns actores mais conhecidos, mas não produziu novas estrelas. Porquê? Porque a estrela é aquele (ou aquela) cuja magnetismo persiste para além das suas personagens, não como mero efeito de marketing dessas mesmas personagens.

Tom Cruise pode servir de referência pendular para compreendermos tal fenómeno. Primeiro, porque o seu estatuto de estrela é, obviamente, muito anterior à vaga de heróis mais ou menos dependentes das matrizes da banda desenhada (foi em 1986 que ele rodou «A Cor do Dinheiro», sob a direcção de Martin Scorsese) e de uma concepção do cinema comandada por uma visão tecnocrática da sua própria base tecnológica; depois, porque, apesar de tudo, Cruise tem sabido adaptar-se às “exigências” comerciais da conjuntura.

«No Limite do Amanhã» surge cerca de um ano depois de o termos visto em «Esquecido» (2013), sob a direcção de Joseph Kosinski. Neste caso, tratava-se de explorar as regras de uma aventura pós-apocalíptica, em cenários de absoluta devastação; em «No Limite do Amanhã», Cruise é um militar que enfrenta uma invasão de “aliens”, para se ver enredado numa vertigem temporal em que, repetidas vezes, acorda de um pesadelo para regressar ao ponto de partida — cada vez que a história se “repete”, ele pode readaptar-se às circunstâncias, uma vez que já sabe (e nós também) muito do que vai acontecer…

Tem sido referido o facto de «No Limite do Amanhã» retomar o dispositivo narrativo de «Groundhog Day/O Feitiço do Tempo» (1993), de Harold Ramis, com Bill Murray. Assim acontece. Mas é também verdade que o mais importante está na possibilidade de corresponder às exigências de um certo modelo de ficção científica sem ceder a muitas rotinas que, ultimamente, o têm conduzido a variações pouco ou nada entusiasmantes. Por isso mesmo, saúda-se também a realização de Doug Liman, cineasta de altos e baixos, autor de um dos grandes filmes independentes do final do séc. XX («Go – A Vida Começa às 3 da Manhã», 1999), aqui a mostrar a sua destreza para fazer valer os mais genuínos valores do espectáculo. João Lopes

Título original: Edge of Tomorrow Realização: Doug Liman Elenco: Tom Cruise, Emily Blunt, Bill Paxton, Brendan Gleeson. Duração: 113 min. EUA/Canadá, 2014

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