No início da temporada de prémios de 2018, «Mudbound – As Lamas do Mississípi» ocupou um lugar entre os candidatos ao Oscar. É uma obra que coloca o dedo na ferida ao discutir o trágico passado racial da América. O filme desenrola-se no Mississípi no período da Segunda Guerra Mundial, este Estado americano é reconhecido pelos confrontos entre extremistas brancos e cidadãos negros na luta pela igualdade de direitos. A história é baseada no romance homónimo de Hillary Jordan e foi realizada por Dee Rees e escrita a meias com Virgil Williams. É um relato dos infortúnios de duas famílias de agricultores em pólos distintos da pirâmide social mas que partilham o mesmo fado com os seus “rebentos” a crescerem num lugar hostil e infértil. Após a guerra, Jamie (Garrett Hedlund) e Ronsel (Jason Mitchell) regressam com o trauma nas costas e as marcas psicológicas da batalha, estabelecem uma amizade que é recriminada por serem de cores diferentes. O filme possui outras narrativas que têm em comum o lamaçal do racismo, a desigualdade social e o defraudar das expectativas de vida. A obra possui bons actores – destaque para Mary J. Blige e Rob Morgan – que fazem crescer os seus papéis mas a narrativa nunca consegue dar o salto e cai sempre na espiral da degradação humana. Exceptuando o último plano, «Mudbound» é um filme sem esperança que está acorrentado ao passado de uma nação. É um retrato que, embora seja verídico, nada traz de novo no exorcizar de um legado maldito.
Título original: Mudbound Realização: Dee Rees Elenco: Jason Mitchell, Carey Mulligan, Jason Clarke, Mary J. Blige, Jonathan Banks. Duração: 134 min. EUA, 2017