Podemos lembrar-nos de referências tão diversas como o filme mudo «Sherlock Holmes» (1922), com o lendário John Barrymore, da visão cruel de Billy Wilder em «A Vida Íntima de Sherlock Holmes» (1970), ou ainda da ambiência feérica da série televisiva «Sherlock» (2010), protagonizada por Benedict Cumberbatch. Que é como quem diz: o detective da capa e do cachimbo, mestre da investigação e da dedução lógica, tem estado na origem de dezenas de variações cinematográficas e televisivas, mais ou menos fiéis à letra e ao espírito do seu criador, Arthur Conan Doyle (1859-1930).
Ainda assim, convenhamos que a leitura que encontramos em «Mr. Holmes» é, no mínimo, desconcertante. De facto, tendo como ponto de partida o romance de Mitch Cullin, “A Slight Trick of the Mind” (entre nós editado, com chancela TopSeller, com o título “Sr. Sherlock Holmes”), o filme de Bill Condon apresenta-nos um homem envelhecida (93 anos), reformado, que nem sequer se reconhece no retrato lendário que o público dele formou. Acontece que, nesse quase paraíso em que vive Holmes, na companhia de uma governanta e do seu filho, vão emergir os sinais dispersos, mas perturbantes, do derradeiro caso que o detective deixou por resolver…
Daí que «Mr. Holmes» seja menos um clássico mistério policial (“quem-como-onde”) e mais um ensaio, discreto e elegante, sobre a cruel passagem do tempo, temperada pela resistência de algumas memórias. Ian McKellen é brilhante no papel central, tal como Laura Linney na personagem da governanta — mas convém não esquecer o jovem Milo Parker, no papel do filho da governanta, mostrando uma agilidade dramática não muito comum na sua idade.
Título original: Mr. Holmes Realização: Bill Condon Elenco: Ian McKellen, Laura Linney, Milo Parker, Hiroyuki Sanada, Hattie Morahan Duração: 104 min. EUA/Reino Unido, 2015
[Texto originalmente publicado na Revista Metropolis nº30, Agosto 2015]
https://www.youtube.com/watch?v=KSsf17Exa4g