Show and tell. «Mansão Assombrada» (2023) é um filme que quer contar, mas também mostrar – tornando visualmente atrativo –, uma das lendas mais emblemáticas da Disneyland: numa tenebrosa habitação estão presas 999 almas, enquanto uma mente maléfica procura a última que lhe permitirá cumprir o seu plano. No novo filme, o grupo de heróis incumbido de travar o vilão do Além é, no mínimo, inusitado: uma mãe solteira (Rosario Dawson), o filho (Chase Dillon), o criador de uma lente que capta fantasmas (LaKeith Stanfield), um padre (Owen Wilson), uma médium trapalhona (Tiffany Haddish) e um professor obcecado (Danny DeVito). A receita para o desastre.

Quando Gabbie (Dawnson) compra uma mansão antiga, está longe de imaginar as consequências de passar a porta com Travis (Dillon). Embora tente fugir, depressa percebe que está presa à casa; e o mesmo acontece às demais personagens a quem recorre em busca de ajuda. Já o protagonista desta história, Ben (Stanfield), um cientista deprimido que trabalha agora como guia, pode encontrar neste mistério o propósito que faltava na sua vida. Mas será que é tarde demais?

Conhecido pelo seu trabalho de escrita e realização em «Dear White People», Justin Simien (ex-trabalhador da Disneyland) ocupou o lugar atrás das câmaras na recriação do universo da mítica Mansão Assombrada, uma das diversões de referência em vários parques Disney, sendo que é mais similar, pela sua estrutura, à da Califórnia. Com uma realização sóbria, capaz de ir do trágico ao cómico em instantes, o cineasta optou por uma abordagem orgânica e visualmente impactante, num argumento da responsabilidade de um nome do cinema de comédia, Katie Dippold.

A opção por uma narrativa leve, ainda que elaborada, acaba por atrair a audiência, sendo que as referências presentes – nomeadamente de momentos específicos de atrações Disney – não vão deixar indiferentes os principais fãs, que tantas vezes olham com desconfiança para este tipo de apostas. Quanto à história que serve de base ao filme, cumpre o objetivo a que se propõe, ao estar bem interligada à lenda que envolve a mansão, com um ritmo equilibrado e cuidado.

Uma das atrações mais populares da Disneyland, na Califórnia, a Mansão Assombrada já tinha inspirado um filme em 2003, protagonizado por Eddie Murphy. Apesar de apresentar uma história bem diferente do filme anterior, tem a diversão mais assustadora do parque norte-americano bem presente – esta tem as variações noutros parques, nomeadamente com a Phantom Manor em Paris (com uma backstory totalmente diferente) e as Mansões Assombradas do Magic Kingdom de Orlando e de Tóquio. E a longa-metragem procura combinar o melhor de dois mundos: um elenco consistente, com uma história apelativa, e aquela que já é uma imagem de marca dos parques Disney. Por um lado, reforça a significância de momentos emblemáticos da atração (em parte comuns às dos outros parques), como a paredes que esticam, a Madame Leota (no filme interpretada por Jamie Lee Curtis), os quadros assombrados e a banda fantasma.

Título original: Haunted Mansion Realização: Justin Simien Elenco: LaKeith Stanfield, Rosario Dawson, Owen Wilson Duração: 123 minutos EUA, 2023

[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº97, Verão 2023]