Nova Iorque é o cenário predileto em dezenas de séries e centenas de películas. Porém, quando pensamos em filmes “nova-iorquinos” há claramente um nome que se destaca: Woody Allen. Mas desta vez é Rebbeca Miller quem requisita a cidade para palco da sua quinta obra cinematográfica: «Maggie’s Plan».

Como o próprio título anuncia, Maggie (Greta Gerwig) tem um plano, ou melhor, vários planos. A protagonista está decidida a controlar todos os aspetos da sua vida, e, logo nos primeiros momentos do filme, ficamos a saber de um dos mais importantes: tornar-se mãe. Como não pode esperar até que o destino lhe apresente um companheiro fiável, Maggie opta por procurar um doador de esperma compatível, que encontra em Guy (Travis Fimmel), um pacato produtor de pickles artesanais. Porém, o destino gosta de pregar partidas e coloca-lhe no caminho John (Ethan Hawke), um charmoso professor temporário com aspirações a escritor, que vive um casamento sufocante por causa da sua dominante e bem-sucedida esposa Georgette (Julianne Moore). Inevitavelmente, Maggie e John envolvem-se e constroem uma nova família. Maggie tem finalmente a sua tão desejada filha. No entanto, passados alguns anos, Maggie percebe que a cada momento que passa a sua paixão por John desvanece e que a sua relação foi definitivamente um erro. Por isso formula um plano: devolver John a Georgette. É nesta reviravolta que está o passo de magia, a surpresa deste filme.

«Maggie’s Plan» é um filme equilibrado e bem construído, revelando ser uma comédia com uma boa dose de reflexão. Ou seja, Rebecca Miller não ornamenta a realidade para ser mais risível, não necessita. Nós rimo-nos das imperfeições de cada personagem, das suas falhas e fantasias. O filme faz-nos pensar até que ponto são estas personagens caricaturas. Mas, para além disso, divertimo-nos a cruzar referências: Georgette lembra-nos Maude Lebowski – «O Grande Lebowski» (1998) –, John é um Jesse ainda a viver em Nova Iorque e com problemas conjugais – «Antes do Anoitecer» (2004) –, Maggie é o oposto de Frances – «Frances Ha» (2012).

Esta comédia funciona não só por causa da narrativa, mas também pela prestação dos atores; a excentricidade tanto de Maggie como de Georgette não seria a mesma sem a representação de Greta Gerwig e Julianne Moore, comprovando-se que esta última também se move bastante bem no registo cómico. Mas Miller consegue também construir imagens de grande beleza ao captar e aliar momentos cómicos a momentos delicados ou sensuais, como, por exemplo, quando John vai desabotoando lenta e luxuriosamente a antiquada camisa de noite de Maggie, botão a botão, dos joelhos ao peito.

Rebecca Miller filma as ruas nova-iorquinas, o ambiente intelectual da cidade, as frustrações pessoais, os labirintos amorosos, tudo isto nos encaminha para o imaginário woodyliano. Porém, há uma grande diferença: o filme está centrado numa mulher. Não é o professor na sua crise de meia idade que faz a história avançar, mas sim Maggie com as suas decisões. É a vida de uma mulher que luta para ser feliz, mesmo que os seus planos não resultem.

No filme aparece o nome do filósofo Slovoj Zizek, talvez por questões da narrativa, ou talvez para lembrar que o controlo é sempre uma ilusão e que o desejo é perverso, pois o que se deseja nem sempre é o que se precisa e vice-versa.

Título original: Maggie’s Plan Realização: Rebecca Miller Elenco: Greta Gerwig, Ethan Hawke, Julianne Moore, Maya Rudolph, Bill Hader Duração: 98 min. EUA, 2015

[Texto originalmente publicado na Revista Metropolis nº39, Junho 2016]

https://www.youtube.com/watch?v=nzcYswSSMWE
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