«Maestro» é o filme do ano. E conta com uma janela de exibição exclusiva nos cinemas antes da sua estreia na Netflix. Esta é uma oportunidade única de ver uma obra criativamente pujante e arrebatadora. Isto é cinema do mais alto quilate.

«Maestro» conta a história do grande amor da vida de Leonard Bernstein, considerado por muitos como o mais prodigioso e talentoso músico norte-americano do século XX. «Maestro» não é – nem o deseja ser – um biopic pormenorizado, é antes uma magnífica sinfonia sobre a vida, o amor e a morte condensada na grande paixão que unia Leonard Bernstein (Bradley Cooper) e a sua eterna companheira, Felicia Montealegre (Carey Mulligan).

Felicia Montealegre assume-se como a figura central desta obra. Ela é a heroína na sombra, como tantas mulheres no mundo, abdica da sua carreira (ela era actriz) em prol do parceiro e os filhos. Felicia sabia que essa seria a dinâmica – ou se preferirem o sacrifício – de uma vida inteira ao lado de Bernstein. Ela partilhava a obsessão do maestro e compositor pela música e tolerava as suas inseguranças e casos extraconjugais dele com vários homens.

A obra está dividida em três actos. O filme começa com a oportunidade de uma vida para Leonard Bernstein. Segue-se o crescimento artístico de Bernstein e a relação com Felicia como actriz; o romance e a vida familiar à sombra de uma América rendida ao maestro e à sua família perfeita. No segundo acto: as fissuras na relação do casal com o sufoco de Felicia perante o ego de Bernstein. Entra em cena a filha mais velha (Maya Hawke numa presença muito segura e afirmativa) que está mais sensível à instabilidade dos pais, inclusive às promiscuidades do pai que assume contornos de escândalo. O trecho final pertence por inteiro a Carey Mulligan, destaque para uma sequência de ruptura com Bernstein que lhe pode valer um Oscar. Carey Mulligan demonstra toda a sua força interpretativa neste filme. Uma espécie de quatro estações da vida que são pontuadas por uma soberba presença em cena, despida de complexos e tiques, plena de realismo onde a actriz desaparece e surge gloriosamente a personagem de Felicia.

E o que dizer de Bradley Cooper? Quando não o vemos a vibrar pelos seus [Philadelphia] Eagles, ele dá asas ao restante mundo com as suas obras e performances cada vez mais magnetizantes. Em «Maestro» ele torna-se uma força à frente e atrás da câmara, num sublime trabalho de realização que não salta uma nota. Tudo é impactante. A nível de interpretação, a mesma é digna de todos os galardões e mais alguns houvesse! Esqueçam, por favor, a patética conversa em torno da prótese do nariz do personagem. Bradley Cooper deu forma ao homem e à voz por detrás da maquilhagem e dos sublimes figurinos. Ele criou uma figura atormentada e dilacerada entre a paixão e o peso da criatividade. Mas não fez disso um estandarte ao apresentar com subtileza essas encruzilhadas existenciais, o seu génio e as suas paixões.

A montagem do filme é perfeita. A composição da narrativa é determinada pelos ritmos da relação entre Felicia e Leonard. E vamos viajando nessa relação ao som das músicas e das actuações de Bernstein. A encenação da performance na Ely Cathedral em 1973 é um arrepiante momento de cinema que também marca a reconciliação do casal. A viagem perfeita também ficará marcada pelo cunho da direcção de fotografia de Matthew Libatique, que lança o filme para o domínio da intemporalidade com a eternidade do preto e branco, aquado ao início da paixão de Felicia e Bernstein, e o colorido da vida, as fissuras da relação – com cores vivas – e, especialmente, toda a sobriedade em torno do crepúsculo de Felicia.

Uma obra imperdível que fecha 2023 com chave de ouro. Bravo «Maestro»!

Título original: Maestro Realização: Bradley Cooper Elenco: Carey Mulligan, Bradley Cooper, Matt Bomer, Sarah Silverman, Maya Hawke Duração: 129 min. 2023/ EUA

  • FILME NOMEADO PARA 7 OSCARS

 

https://www.youtube.com/watch?v=-ZjgKJwoUes

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