Page 11 - Revista Metropolis nº87
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23ª FESTA                GODARD E OS "NÃO-FILMES"




 DO CINEMA




 FRANCÊS                                          CLÁSSICOS

                                                   HUGO GOMES

 26 OUT A                       “Vamos     antes   ver    o   nestas suas últimas pegadas na Terra, tremendas



                                ‘Terminator 4''', sugere o
                                                              tentativas em concretizar um “não-filme”. Gestos
 20 NOV                         par de jovens que abandona    algo falhados, portanto, inconcebível porque desde
                                o cinema de bairro após a
                                                              o momento que se avançava num projeto, esse
                                                              idealizado “não-filme” deixaria automaticamente
                                resposta  negativa  quanto  à
 2022                           presença de peitos em “Bolero   de existir. É um paradoxo, aquele em que Godard
                                                              se enfiou, mas antes disso, é a mentira que tentou
                                Fatal”,
                                                tumultuoso
                                         esse
                                filme-fictício que serve de
                                                              vender a si mesmo para "disfarçar" a sua perda
            coração para a narrativa de “For Ever Mozart”
                                                              acreditar no Cinema, deixou de vê-lo como uma
            (Jean-Luc Godard, 1996). Esta atitude em forma de   de crença no Cinema. Sim, Godard deixou de
            sketch segue no eixo de uma caricatural première,   arte humana, criada por Homens e pensada por
            o qual, após uma debandada generalizada dos       Homens. Deixou de crer o Cinema enquanto algo
            possíveis espectadores, o filme, esse “Bolero”,   atingível. Para Godard, o Cinema havia esgotado,
            é erradicado automaticamente da mesma sala.       não restava nada, apenas os filmes ditos e nunca
            Isto para salientar um dos aspetos importantes    elaborados, nunca encenados, nunca escritos, os
            deste filme que por sua vez reflete na demanda de   tais  “não-filmes”.  Em  “For  Ever  Mozart”,  existe
            Godard, a busca pelo “não-filme”, o seu interesse   uma inicial crença na vitalidade do Cinema,
            pela “possibilidade de” e não o concreto. Antes da   tentando repescar esse espírito dos anos 60, onde
            notícia que abalou o mundo cinéfilo - o Cinema    a desconstrução, o burlesco, a aceleração e as
            órfão de Jean-Luc Godard, - a SR Teste Edições    ideias  invocadas e rachadas em  película seriam
            editava a tradução dos diálogos entre o cineasta   o mote do seu diálogo audiovisual. Mas tudo se
            e a escritora e realizadora Marguerite Duras, uma   tratou de uma miragem, de uma ilusão, no fim
            compilação deliciosa em três saltos temporais,    de contas, o verdadeiro filme, o Cinema digamos
            que subtilmente revelava um embate de ideias      nós, em Godard, está no “Bolero Fatal”, o “não-
            quanto à palavra e a sua importância para quem    filme”  do seu “filme-real”. O  “não-filme” como
            trabalha com imagens. Por diversas vezes, Godard   macguffin. O “não-filme” todo ele renegado da
 LISBOA 26 OUT A 20 NOV  |  ALMADA 26 A 28 OUT   |  COIMBRA 26 A 29 OUT  mencionava os “não-filmes” por entre os diálogos,   sua  estreia.  Desta  maneira,  é  possível constatar
                                                              a descrença, não só no Cinema, como também no
            desde aquele trocado por Duras e Gerard Depardieu
 PORTO 7 A 20 NOV  |  LAGOS 15 A 19 NOV   |  OEIRAS 17 A 20 NOV  em "Le Camion" (1977), até ao desprezo ostentado   seu público, desinteressados quanto à subversão
                                                              e à perversão. Convertendo-se em escravos da
            por Bertolucci pelo preciso momento em que
 FARO 17 A 20 NOV   |  ÉVORA 17 A 20 NOV  |  VISEU 17 A 20 NOV  |  FUNCHAL 17 A 20 NOV  avança com “The Last Emperor”. Godard escolheu   indústria e do cinema “empapado”, ansiosos pelo
            o caminho eremítico, questionando e debatendo     que estão familiarizados (o gag do ‘Terminator 4’)
 @festadocinemafrances  |  www.festadocinemafrances.com  a própria cerne do Cinema enquanto estrutura   do que a descoberta que um filme “fatal” poderia
            estabelecida, e como tal possibilitou-nos a assistir   proporcionar.




 Apresentada por  Parceiros






 Evento organizado no âmbito daTemporada Portugal-França 2022  Comité de Mecenas da Temporada Portugal-França 2022
                                                                                        c   r   ó  n   i   c  a
                                                                                        METROPOLIS OuTubRO 2022    11



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