«Luther: O Cair da Noite» marca o regresso do DCI John Luther (Idris Elba) para mais uma viagem psicológica e criminal ao lado negro da mente humana. Nesta incursão, o intrépido detective britânico chega-nos em formato condensado numa longa-metragem após cinco temporadas de grande sucesso nos ecrãs da BBC.
«Luther: O Cair da Noite» assinala a estreia na realização de Jamie Payne, com o criador da série, Neil Cross, a assumir o papel de argumentista. A realização é ligeiramente episódica e faltou-lhe alguma coesão, mas devemos assinalar que em termos visuais há também momentos muito intensos e bem conseguidos: uma sequência noturna em Piccadilly Circus e o arrepiante clímax, dignos de uma longa-metragem. Neil Cross criou uma boa trama de mistério e drama. Comparativamente à série parece-nos limitado pela condensação narrativa, especialmente no desenvolvimento dos personagens, veja-se o papel de Cynthia Erivo.
Um rapto em Londres, uma promessa não cumprida, um serial killer à solta e Luther atrás das grades são o arranque deste thriller. Luther tem um adversário à sua altura na figura de um ciberterrorista maquiavélico e totalmente insano. O controlo da vida das pessoas à distância através dos meios digitais vai estar no centro da trama. É o digital versus o analógico. Se preferirem, um detective extremamente inteligente, instintivo e analítico versus o puro mal na figura de David Robey (Andy Serkis). Este é um financeiro com vários parafusos a menos que se aproveita da presença digital das vítimas para manipulá-las à distância através da chantagem: o medo da vergonha de serem reveladas as suas indiscrições é bem maior do que a própria morte.
Há personagens que estão magníficos, a começar, evidentemente, pelo imparável anti-herói Luther, com Idris Elba a ser igual a si mesmo num grande personagem que definiu a sua carreira. Sempre que surge em cena o espectador quer mais Luther, de tal forma é cativante a sua interpretação. Dermot Crowley no papel do ex-comissário Martin Schenk, um figurão da série, um personagem habituado a lidar com os demónios internos de Luther, que por muito maus que sejam, são remédio santo para lidar com os psicopatas. Cynthia Erivo é uma adição a esta mitologia no papel da nova comissária Odette Raine. A actriz já foi consagrada no teatro e televisão e tem uma enorme margem de progressão na carreira. Desilude ligeiramente, mas não por sua culpa, pelo seu papel até ao último terço do filme. O argumento colocou Odette Raine inicialmente como antagonista de Luther, numa posição mais fria, mas, quando deixa de ser hermética, expressa outra palete de emoções e podemos vislumbrar todo o seu talento. Andy Serkis é o vilão da história, e um actor que dispensa apresentações, é realmente muito versátil. O seu personagem, David Robey, é narcisista, inteligente, mau como as obras e um manipulador exemplar. Em alguns momentos torna-se contudo demasiadamente patético na excitação da sua grande ambição criminosa. Ficamos na dúvida se é overacting ou se será mesmo loucura do personagem elevada ao cubo.
O filme não se conseguiu distanciar da matriz televisiva e tinha meios para criar uma obra mais distinta que poderia sobreviver sem a bengala da série. Apesar desta fragilidade «Luther: O Cair da Noite» é um sólido thriller e não desilude os fãs da série.
Título original: Luther: The Fallen Sun Realização: Jamie Payne Elenco: Idris Elba, Cynthia Erivo, Andy Serkis, Thomas Coombes, Dermot Crowley Duração: 129 min. Reino Unido/EUA, 2023
https://www.youtube.com/watch?v=EGK5qtXuc1Q