Falar de «Lugares Escuros» é, inevitavelmente, falar de Gillian Flynn. O seu notável romance Gone Girl/Em Parte Incerta deu origem ao prodigioso filme homónimo de 2014, assinado por David Fincher — e isso mudou, inevitavelmente, o seu peso no interior da indústria cinematográfica. Na prática, «Lugares Escuros», baseado no seu livro anterior (disponível em tradução portuguesa, com chancela da Bertrand), estava projectado já há algum tempo, mas só recebeu luz verde depois do impacto de «Em Parte Incerta».
Há ainda outra maneira de dizer tudo isto: «Lugares Escuros» não beneficiará muito de qualquer comparação com «Em Parte Incerta»… Mas é um facto que o trabalho do francês Gilles Parquet-Brenner, na dupla qualidade de argumentista e realizador, também não merece ser reduzido à execução de uma mera rotina.
Afinal de contas, Parquet-Brenner teve de confrontar-se com um delicado problema narrativo. A saber: a vertiginosa estrutura de permanente vai-vém temporal através da qual entramos na dramática odisseia de Libby Day, a menina de oito anos que assistiu ao assassinato da família (a mãe e duas irmãs), sendo compelida, 25 anos mais tarde, a percorrer um inquietante labirinto de memórias que pode levar à libertação do homem que foi condenado pelos crimes (o seu próprio irmão).
Centrado na composição de Charlize Theron no papel de Libby, «Lugares Escuros» consegue sustentar esse movimento temporal, como se tudo desembocasse num momento em que todas as medidas do tempo parecem coexistir no mesmo angustiado presente — e isso é totalmente fiel ao espírito da escrita de Gillian Flynn.
Título original: Dark Places Realização: Gilles Parquet-Brenner Elenco: Charlize Theron, Nicholas Hoult, Christina Hendricks, Corey Stoll, Chloë Grace Moretz Duração: 113 min. Reino Unido/França/EUA, 2015
http://youtube.com/watch?v=pbQib4tE9Lo