As atrizes Abbey Lee (Christina Braithwhite) e Wunmi Mosaku (Ruby Baptiste) estão em destaque no elenco de «Lovecraft Country», a mais recente aposta da HBO Portugal. A série aborda a cruzada de Atticus (Jonathan Majors), um ex-veterano à procura do pai, que acaba em buscar de respostas que nem sabia que precisava. Trata-se de uma criação de Misha Green, com base no livro de Matt Ruff. Jordan Peele e J.J. Abrams são produtores executivos.
O que vos atraiu para este projeto? E como se sentiram quando leram o argumento pela primeira vez?
Wunmi: Quando li o roteiro, pensei… adoro um bom drama familiar. Fiquei agarrada praticamente desde início, até mesmo do primeiro livro que o Atticus lê no autocarro. O drama familiar parecia real, dramático e familiar e depois é H.P. Lovecraft tal como um relâmpago, e nunca tinha visto nada assim. Após a minha audição percebi que era um livro, então li o livro e adorei. E sim, foi isso que mexeu comigo.
Abbey Lee: É um pouco difícil destacar o que me atraiu para este projeto porque houve uma série de coisas. Há o género e as coisas que este toca; tão amplo e multifacetado que eu fiquei “uau”, nunca tinha lido nada assim, tão íntimo e detalhado. É sem dúvida uma prova da genialidade da Misha Green, ser capaz de criar algo que está tão ligado à história e é relevante na atualidade, elementos de magia e um drama familiar universal, surpreendeu-me. Para mim, particularmente a Christina, ela é tão desequilibrada que pensei “esta mulher está fora de si”. Tanta coisa que acontece nesta série é desequilibrada, selvagem, desafiante, provocadora e sempre divertida ao mesmo tempo, é uma viagem. Absorvi realmente tudo! A primeira vez que li os guiões, lembro-me de me ter fechado num quarto de hotel e ter lido tudo e pensar, tenho de fazer isto de novo. Depois passaram umas boas 24 horas, sempre a ler e a ler, porque havia sempre tanto a apreender constantemente.
De que forma é que é diferente de todos os outros projetos em que já participaram?
AL: Acho que é muito difícil para uma mulher ter o guião de uma personagem que é tão complexa. Uma mulher que é tão multifacetada. A Misha transformou a minha personagem na amálgama de dois homens que existem no livro. Nunca tive a oportunidade de interpretar este tipo de personagem, não recebo estes argumentos nas mãos. Então, é realmente diferente de tudo o que já tive a oportunidade de fazer. Muito raramente o antagonista é uma mulher. Não apenas uma antagonista, não é só maldosa; mas, atrevo-me a dizer, é compreensível, adorável e talvez haja uma empatia.
WM: Diverge de tantas maneiras dos outros projetos em que participei. E mesmo tendo em conta o estilo de peça de época, não sentia que tivesse tido a oportunidade, enquanto atriz negra, de estar numa série de época. Acho que fiz apenas uma na década de 30 em Londres. Acho que interpretar uma americana e afro-americana neste período temporal, para mim, é completamente novo. Além disso, estava a interpretar uma cantora e a aprender a tocar guitarra.
AL: Ela tem uma voz incrível!
WM: Tivemos a ajuda de alguns professores de canto, porque normalmente não canto aquele género [blues], de todo! Toquei guitarra todos os dias durante este trabalho e ainda não sei tocar [risos]. Ainda fico muito nervosa quando a câmara começa a rolar e esqueço-me de tudo!
A série centra-se na América segregada dos anos 50, mas muitas vezes parece atual. Vemos temas como racismo, sexismo e privilégio serem explorados. O que pensam de tudo isto?
WM: A história repete-se. É uma vergonha que ainda não seja totalmente história, sabes, ainda está muito presente. Sinto que esta série poderia ter sido contada em qualquer momento entre o presente e aquela época – teria a mesma relevância e significado. A minha esperança é que daqui a cinco anos, pareça algo de que nos afastámos. Mas sim, é uma pena que seja ainda tão relevante, e tanto a nossa realidade.
AL: Estamos a viver numa era digital onde somos capazes de ser muito mais despertos para uma grande experiência humana. Estamos a aprender tanto com o que está a acontecer, não apenas onde estamos, mas do outro lado do mundo. É um tempo tão brilhante para esta série sair, porque sinto que globalmente houve um despertar, finalmente. A arte é outra forma de comunicar isso, de apoiar a mudança social. E isso acontece a um nível diferente, no sistema espiritual [na série]. Porque não é real, mas é. Por causa da natureza da série, atinge a humanidade de uma maneira muito real. Acho que é um momento tão profundo para esta série ser lançada! Acho que as pessoas realmente estão prontas para absorver o que ela está a tentar mostrar.