«Looper», aquando a sua estreia em 2012, o filme de Rian Jonhson era muito aguardado. Apesar de ser apenas a terceira longa-metragem do realizador, a espectativa em torno da estreia era enorme. O domínio notável da construção narrativa e dos códigos de género aliados à originalidade e sentido de humor que fizeram de «Brick» uma verdadeira obra prima e «Os Irmãos Bloom» uma comédia elegante, inteligente e comovente, são qualidades que podemos também encontrar em «Looper». A isto juntou-se ainda a dupla de estrelas Bruce Willis e Joseph Gordon-Levitt, na sua segunda colaboração com o realizador (a primeira foi em 2005, em «Brick»), e o fascínio do sci-fi, facto muito valorizado pela campanha de promoção que chegou a apelidar o filme de “novo Matrix”, uma provocação que, com sucesso, deixou em verdadeira polvorosa os milhões de fanáticos do clássico de 1999.
Estratégias de promoção à parte, «Looper» faz um uso hábil e moderado dos efeitos especiais espectaculares associados à ficção científica e às viagens no tempo. Num futuro próximo, estamos em 2044, os ambientes são familiares e a fantasia serve aqui como forma de ampliar outros temas mais mundanos, como as dificuldades e consequências implicadas nas nossas escolhas. A imagem metafórica do loop, entendida como um circuito fechado, repetitivo, espelha-se na ideia-motor do filme: Joseph Gordon-Levitt interpreta Joe, uma nova espécie de mercenário do futuro apelidado de “looper”, alguém que cumpre fria e mecanicamente a missão de assassinar pessoas indesejadas enviadas do futuro pela máfia. Este ciclo é interrompido quando o seu eu mais velho (Bruce Willis) aparece como o próximo alvo a abater.
É muito interessante o modo como o realizador trabalha essa metáfora circular em aspectos visuais (como o relógio) ou através da repetição de cenas ou temas, como a violência, a droga ou a maternidade. Apesar do filme se centrar obviamente na personagem dupla de Joe, as mães povoam todo o filme. Não falo apenas da personagem de Sara (Emily Blunt) ou Suzie (Piper Perabo), dois claros opostos potenciados pelo contraste de cenários (campo/cidade), mas existem também, e talvez mais importantes, as mães ausentes e as imaginadas. Em primeiro lugar a mãe de Joe, uma figura sem rosto, lembrada pelo modo como lhe acariciava o cabelo. Não é por acaso que a última imagem do filme funciona como um duplo desta imagem-sentimento. O fechar de um ciclo.
Dentro desta lógica de repetição aparentemente fechada o filme defende sempre, sob as condições mais extremas, a possibilidade da liberdade de escolha. Quando o seu eu 30 anos mais velho dita ao jovem Joe as razões porque os dois se devem unir num plano de acção, a resposta deste é categórica: “isso aconteceu contigo. Não tem que acontecer comigo.” A sua vida está nas suas mãos e o futuro é apenas mais um mundo possível a querer nascer. Este loop não é pois uma forma fechada, está mais próximo da espiral do que de um círculo perfeito. A beleza do filme passa por essa abertura ao infinito possível.