La La Land – Especial

La La Land – Especial

«La La Land: Melodia de Amor» fez renascer um género que já foi tão caro no Cinema mas que tinha estado adormecido: o musical. Damien Chazelle, argumentista e realizador do marcante «Whiplash – Nos Limites», teve a sua prova de fogo, munindo-se de uma dupla com química inabalável, Emma Stone e Ryan Gosling. O filme estreia dia 25 na FOX Life

A HISTÓRIA
Ele chama-se Sebastian e é um pianista jazz. Ela é Mia, uma aspirante a atriz. Os dois são sonhadores inveterados e lutam por conseguir um lugar na “Meca” do Cinema, Los Angeles. O encontro entre ambos causará muitas faíscas e mudará as suas vidas.

Damien Chazelle
O norte-americano Damien Chazelle surpreendeu tudo e todos com «Whiplash – Nos Limites» (2014), um modesto filme independente que viria a ser nomeado para 5 Óscares, vencendo em 3 categorias, incluindo o de Melhor Ator Secundário para J.K. Simmons (que também dá o ar de sua graça neste «La La Land: Melodia de Amor»). Chazelle também conseguiu uma nomeação, para Melhor Argumento Adaptado, e conseguiu virar as atenções para o seu trabalho como poucos alcançam em início de carreira.

Para o seu trabalho seguinte, Chazelle subiu muito as expectativas e resolveu apostar num argumento que tinha escrito há já vários anos mas que só o sucesso de «Whiplash – Nos Limites» poderia levar a que conseguisse ir para a frente. A ideia de Chazelle era a de criar um musical contemporâneo e precisou de batalhar até acertar no tom, já que os primeiros testes do filme através de focus group não correram da melhor forma. “Ficas magoado por um segundo, mas depois tens de te recompor e resolver a situação. Levou algum tempo para encontrar o filme. Em alguns momentos, não estávamos certos de que iríamos encontrar o balanço que queríamos”, confessou o cineasta, que passou quase um ano na sala de edição com o editor Tom Cross para conseguir alcançar o tom pretendido.

Chazelle escreveu «La La Land: Melodia de Amor» bastante tempo antes de ter criado «Whiplash – Nos Limites», numa altura em que era aluno na Universidade de Harvard. O cineasta desenvolveu com o colega Justin Hurwitz – que assina a banda-sonora destes dois filmes – o conceito de um musical de baixo orçamento sobre um músico de jazz em Boston, que resultou na primeira longa-metragem de Chazelle, «Guy and Madeline on a Park Bench» (2009). Após terem abordado o tema na sua tese e de se terem formado em 2010, ambos continuaram a trabalhar na ideia, mudando-a para Los Angeles, porque “há algo de muito poético numa cidade que é construída por pessoas com sonhos irrealistas que fazem de tudo para conseguir alcançá-los”, explicou Chazelle. O realizador conseguiu chegar à fala com dois produtores, Fred Berger e Jordan Horowitz, que fizeram com que o argumento fosse parar às mãos da Focus, com um orçamento incrivelmente reduzido, de 1 milhão de dólares («La La Land: Melodia de Amor» viria a ser produzido com um orçamento de 30 milhões de dólares). Apesar da oferta modesta, o projeto não convenceu e ficou na gaveta, propondo-se a Chazelle que o seu protagonista, um pianista jazz, passasse a ser um músico rock. “Todos os aspetos que pareciam especiais e distintos foram pedidos para ser alterados”, recorda Berger.

Após o grande sucesso de «Whiplash – Nos Limites», «La La Land: Melodia de Amor» pareceu muito mais aliciante e fez com que a Lionsgate e a Black Label Media se unissem, juntamente com o produtor Marc Platt, para levar a história ao grande ecrã. Além disso, Chazelle teve direito a ter como protagonistas verdadeiras estrelas. O cineasta propôs o papel da personagem feminina a Emma Watson, mas a atriz britânica optou por protagonizar «A Bela e o Monstro», a adaptação em imagem real do sucesso da Disney de 1991. Para o papel masculino, Chazelle pensou em Miles Teller, o protagonista de «Whiplash – Nos Limites», mas a ideia acabou por não se concretizar. Para os seus lugares foram escolhidos Emma Stone e Ryan Gosling, que já haviam sido par romântico em «Amor, Estúpido e Louco» (2011) e «Força Anti-Crime» (2013). Chazelle mostra o seu contentamento com o par protagonista: “A maior concretização que eles fazem no filme é conseguirem humanizar tudo. Mesmo quando há momentos muito técnicos, sentes os personagens, a humanidade e esse era o grande desafio. É aí que te tornas realmente grato por ter atores deste calibre”. “Para mim, eles são o mais parecido que temos atualmente de um antigo casal de Hollywood, como Spencer Tracy e Katherine Hepburn, Fred [Astaire] e Ginger [Rogers] ou Myrna Loy e Dick Powell”, assinalou, referindo ainda que a dupla tem “uma rara combinação: a aura de uma pessoa do antigo sistema de Hollywood e a capacidade de serem pessoas reais que poderiam ser o guia para uma história moderna”.


Ryan Gosling
Outrora mais conhecido por ser um sex-symbol, o ator de origem canadiana Ryan Gosling tinha vindo a demarcar-se desse rótulo, procurando construir uma carreira diversificada e cheia de personagens desafiantes. O ator começou por tentar a sua sorte no programa «The Mickey Mouse Club», juntamente com o ator e músico Justin Timberlake. Seguiu-se a participação em algumas séries, até chamar a atenção da crítica com o filme «O Crente» (2001) e o interesse do público com «O Diário da Nossa Paixão» (2004). Desde então, tem participado em filmes independentes ou de maior dimensão, mas sempre com personagens diferentes uns dos outros, como «Drive – Risco Duplo» (2011), «Como Um Trovão» (2012), «A Queda de Wall Street» (2015) e «Bons Rapazes» (2016). Pelo meio, foi nomeado para o Óscar de Melhor Ator Principal por «Half Nelson – Encurralados» (2006) e realizou a sua primeira longa-metragem, «O Rio Perdido» (2014), no qual também assina o argumento.

Com «La La Land: Melodia de Amor», Ryan Gosling encontrou um novo desafio: um musical. O ator descreveu o seu personagem como sendo “um pianista jazz que está entre um purista e um snob”, “tendo um momento difícil ao aceitar que o jazz nunca estará novamente no topo das tabelas”. “Ele está quase a tornar-se numa pessoa muito amarga e zangada, mas felizmente conhece uma mulher que o impede de se tornar na pior versão dele próprio”, destacou. A preparação para interpretar Sebastian foi árdua. Afinal, Gosling precisou de estudar piano quatro horas por dia durante os três meses antecedentes às filmagens, não só para que parecesse crível mas para que não houvesse qualquer tipo de edição, pois Chazelle preferia gravar em apenas um take. Ou seja, é mesmo Gosling que toca o piano nas cenas de «La La Land: Melodia de Amor», não recorrendo a qualquer duplo, um profissional que Chazelle pretendia contratar antes de ver Gosling em ação: “Comecei a filmá-lo com um iPhone e a vê-lo a tocar as peças para ter ideia de quais eram os seus pontos fracos, mas ele acertou inteiramente”. Gosling confessou que já tocava piano mas “certamente não jazz”. “O Ryan tornou-se obcecado em aprender o mais que pôde sobre aquela cultura e aquela época”, assinalou Chazelle.

Para encontrar inspiração, Gosling muniu-se, justamente, de figuras do passado, mais precisamente no casal Fred Astaire e Ginger Rogers, que fizeram 10 filmes juntos, como o icónico «Ritmo Louco» (1936). O ator faz parte de uma dupla que começa também a ficar muito conhecida no Cinema e a deixar a sua marca. “Temos um sentido de humor e uma sensibilidade similares. Julgo que ambos nos sentimos sortudos por trabalharmos enquanto atores e não o tomamos como garantido”, disse Ryan Gosling sobre a sua parceria com Emma Stone.


Emma Stone
A jovem norte-americana Emma Stone é uma das mais resplandecentes atrizes da sua geração, conquistando elogios e a admiração de público e crítica. Começou nas lides da interpretação quando era ainda criança e precisou de vários anos até conseguir ter o papel que lhe abriu o caminho para o estrelato, o que aconteceu com a comédia «Ela é Fácil» (2010). Não obstante, Stone foi construindo a sua carreira através de personagens ora mais sérios, ora mais risonhos, não se prendendo a qualquer estereótipo. Tal fez com que participasse em obras tão diversas como «As Serviçais» (2011), «O Fantástico Homem-Aranha» (2012), «Magia ao Luar» (2014) e «Birdman», que lhe garantiu a nomeação para o Óscar de Melhor Atriz Secundária. Com este papel em «La La Land: Melodia de Amor», apresenta-se como uma das principais concorrentes ao Óscar de Melhor Atriz Principal, tendo já vencido o Prémio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Veneza e o Globo de Ouro de Melhor Atriz Principal em Filme de Comédia ou Musical.

Porém, antes disto tudo, Emma Stone foi uma jovem aspirante a atriz, que recebeu várias recusas em audições. Tal como a sua personagem, Mia. “As memórias das más audições tiveram menos força do que o tempo em que nem sequer era chamada para os castings”, confessa a atriz, que recorda a cena em que a personagem “deita a toalha ao chão e volta para casa” como “a mais visceral para mim. Conheço a experiência de não ser vista nem apreciada”.

Quando se envolveu neste projeto, Emma Stone tinha terminado o seu período de atuações do musical “Cabaret”, na Broadway, pelo que estava mais confortável com a parte vocal. “Fui sortuda porque tinha energia para cantar o dia todo. Simplesmente não consigo imaginar não cantar ao vivo estas músicas”, assinalou Stone. Não obstante, ainda era preciso que a atriz dominasse os passos de dança exigidos em vários momentos do filme. Foi nessa altura que entrou em ação a coreógrafa Mandy Moore, que trabalhou nos programas «So You Think You Can Dance» e «Dancing With the Stars», além de ser a responsável pela dança algo atrapalhada mas cheia de romantismo do final de «Guia Para um Final Feliz» (2012), protagonizado por Jennifer Lawrence e Bradley Cooper.

«La La Land: Melodia de Amor» foi um dos marcos na carreira de Emma Stone, mas a atriz esteve bastante oscilante antes de aceitar o desafio, questionando constantemente Damien Chazelle: “Adorei a ideia, o seu caráter ambicioso e o entusiasmo do Damien, mas estava hesitante por causa do tom. Ele teve que ir descrevendo tudo até começarmos a filmar. Foram meses… Fui tão irritante”. Todavia, a atriz ficou bastante impressionada com o trabalho do cineasta e o resultado final: “Cada cena parecia fazer sentido e estar pré-planeada na sua mente. Sentes o ritmo no filme. Em «Whiplash – Nos Limites» sentes que te estás a mover ao som da batida da bateria e aqui é similar. Além de ser um musical, a edição do filme é muito musical”. Emma Stone referiu-se a Tom Cross, que venceu o Óscar de Melhor Edição por, justamente, «Whiplash – Nos Limites».


Os desafios de um musical
O género musical já teve a sua era de ouro em Hollywood mas tem perdido fulgor nas últimas décadas. O mais recente musical a conseguir apaixonar a Academia foi «Os Miseráveis» (2012), que ganhou 3 Óscares em 8 nomeações, mas é preciso recuar até «Chicago» (2002) para recordarmos o último musical a ser o vencedor indiscutível de uma gala dos Óscares, vencendo 6 prémios, incluindo o de Melhor Filme, num total impressionante de 13 nomeações, valor apenas ultrapassado pelos filmes «Eva» (1950) e «Titanic» (1997), que conseguiram 14 indicações.

Damien Chazelle é um grande fã do género e transforma «La La Land: Melodia de Amor» numa homenagem e ode ao revivalismo. “Há algo belo nos musicais. A ideia da música e a dança a expressarem emoções é algo que não tens através de outras formas de arte”, considerou o cineasta, que espera conseguir, com esta obra, “conquistar os céticos”. A missão foi cumprida logo com o protagonista Ryan Gosling, que tinha alguns receios iniciais: “A parte mais complicada foi não ter estes personagens a tornarem-se, de repente, pessoas diferentes porque estavam a cantar”, assinalou o ator. Os momentos precisavam de evoluir de forma orgânica, sobretudo quando Mia e Sebastian dançam nas estrelas dentro do Observatório de Griffith. “A ideia do Damien para estas cenas fantásticas era que ‘eles estavam apaixonados e é assim que o amor te faz sentir’. É muito difícil argumentar contra isso”, afirma Gosling.

Um musical requer também um tipo de preparação específica da equipa de produção e, no caso de «La La Land: Melodia de Amor», tal começou em maio de 2015, num total de três meses de empenho conjunto. Enquanto Gosling praticava piano numa sala e Emma Stone treinava os seus dotes de dançarina noutra sala, havia também um lugar especial para que a figurinista Mary Zophres desenvolvesse o guarda-roupa. Chazelle explica que “os musicais são filmes interdisciplinares e requerem diferentes ofícios e intérpretes para trabalharem proximamente”. Para ajudar a entrar mais facilmente no ritmo dos musicais, o cineasta providenciou para toda a equipa a exibição, às sextas à noite, de filmes míticos que inspiraram «La La Land: Melodia de Amor», como «Chapéu Alto» (1935), «Serenata à Chuva» (1952) e «Jogos de Prazer» (1997).

“O que é tão incrível num musical – quando funciona – é que é um género que tem o potencial para emocionar como nenhum outro. Mas, quando não resulta, é apenas confrangedor”, realçou Chazelle. “Os musicais, na sua essência, são uma forma de arte populista. Por isso, esperei e rezei para que houvesse público, que as pessoas fossem recetivas, apesar de me terem dito várias vezes que a ideia de um musical não era a mais apetecível para os públicos de hoje em dia”, concluiu.