Venus e Serena Williams são as duas jogadoras negras mais talentosas e galardoadas de sempre do ténis mundial. Conquistaram os maiores torneios do circuito, alcançaram o topo nos rankings e aí permaneceram anos consecutivos. Os triunfos e conquistas das manas, nos courts mais sonantes, encheram milhares de páginas de jornais e revistas e horas de cobertura televisiva, porém, faltava um filme para registar essa trajetória de sucesso. Ele chegou em 2012, pela mão da dupla Maiken Baird e Michelle Major, com o título elucidativo – «Venus and Serena». Acompanhava a vida e carreira das irmãs tenistas num registo de documentário, penetrava na sua vida familiar e retratava a ligação íntima de ambas, durante o ano de 2011, quando Venus lutava contra uma doença autoimune e Serena contra uma embolia pulmonar. Porém, a forma como o filme retratava o pai e primeiro treinador das jogadoras desagradou profundamente toda a família, em especial as talentosas jogadoras. Passaram vários anos, uma profunda mudança iniciou-se na sociedade norte-americana com o movimento “Black Lives Matter” que chegou também à indústria de cinema norte-americana afim de garantir uma maior representatividade dos negros americanos no grande écran.

Estava criado o contexto ideal para que em 2019, antes da pandemia eclodir, se iniciasse a produção de «King Richard: Para além do Jogo» onde a condição afro-americana e pobre da família Williams num meio predominante branco, elitista e rico do ténis norte-americano é o quadro de fundo desta “luta” do patriarca para formar as duas maiores jogadoras de sempre do ténis mundial. Este novo trabalho sobre o sucesso das Williams centra-se no início da carreira da dupla, é assinado por um quase estreante, Reinaldo Marcus Green, num trabalho de realização sofrível, sem qualquer traço autoral, e visa limpar a imagem pública negativa de Richard Williams, deixada anteriormente pelo filme de 2012.

Dito isto, importa sublinhar que estamos perante um filme muito pobre, maniqueísta até à exaustão, com personagens de “papel”, sem qualquer espessura dramática. Nem o protagonista, interpretado por Will Smith, escapa do fracasso total desta empreitada. Talvez a única coisa que valha seja a escolha das canções que pontuam os vários momentos do filme, com alguns dos nomes mais consagrados da soul music. Enfim, mais grave ainda é apresentar o filme com a caução “dramática” de se basear em fatos verídicos pois tudo o que vemos no filme é apenas um sonho lindo americano. Como se ainda alguém acreditasse nele, nos dias que correm.

Título original: King Richard Realização: Reinaldo Marcus Green Elenco: Will Smith, Aunjanue Ellis, Jon Bernthal Duração: 144 min EUA, 2021

https://www.youtube.com/watch?v=BKP_0z52ZAw
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