Ao lidar com a figura complexa e fascinante de Steve Jobs (1955-2011), seria possível evitar a dificuldade de a história atrair o mito e, mais do que isso, o mito tender, por vezes, para o misticismo? Provavelmente, não. Os resultados, honestos mas simplistas, deste «Jobs» mostram que a apreensão do homem que fez da Apple uma empresa (e uma ideologia) planetária necessitava de uma atitude que arriscasse muito para além da biografia “ilustrativa”. Que é como quem diz: uma atitude e, sobretudo, uma lógica narrativa que soubesse libertar-se do conformismo dos modelos tradicionais do telefilme. Somos, assim, confrontados com uma série de cenas que procuram “informar” sobre os momentos decisivos da trajectória de Steve Jobs, testemunhando a energia da sua criatividade (ainda nos tempos da Apple a funcionar na garagem dos pais adoptivos) ou o grau de exigência da sua gestão (já com a empresa a movimentar muitos milhões de dólares). Ashton Kutcher defende-se bem na “obrigação” de compor um Jobs mais ou menos “fotográfico” e há vários actores capazes de introduzir algumas sugestivas nuances emocionais, com destaque para Josh Gad, interpretando Steve Wozniak (co-fundador da Apple). Em todo o caso, podemos corrigir a pergunta inicial sobre se “seria possível” outro tipo de abordagem. De facto, trata-se de saber se será possível, isto porque Aaron Sorkin, o mestre que escreveu «A Rede Social» ou a série «Newsroom», está a trabalhar num argumento sobre Steve Jobs…
Título original: Jobs Realização: Joshua Michael Stern Elenco: Ashton Kutcher, Dermot Mulroney, Josh Gad, Lukas Haas, J. K. Simmons Duração: 122 min Estados Unidos, 2013
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº12, Setembro 2013]
https://www.youtube.com/watch?v=uMlBzsObomo