Devo ter visto pela primeira vez «A Intriga Internacional» («North by Northwest»), filme de 1959 de Alfred Hitchcock, ou numa transmissão televisiva ou quando o home vídeo começou, nos anos 80, a levar o “cinema” (ou a expressão possível dele caber no espaço de uma sala, com um sofá e umas almofadas pela frente) às nossas casas. Devo ter notado desde logo a presença do ator Martin Landau no elenco. Sim, mais que Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason ou até mesmo Jessie Royce Landis. No papel do mais direto ajudante do vilão, Landau tinha morado regularmente na memória das tardes de sábado (ou era domingo?) de finais dos anos 70 como o comandante John Koenig em «Espaço 1999» e figurava em vários dos 400 cromos da caderneta, ainda daquelas de usar cola a sério, que completei na altura. Com o tempo – e mais recentemente na soberba edição em Blu-ray – fui desviando a atenção para a espantosa história de identidade trocada que serve o tutano do argumento de Ernest Lehman, a pujança e o cromatismo da banda sonora de Bernard Herrmann (numa das suas melhores colaborações com Hitchcock) ou o genérico criado por Saul Bass (que a série televisiva «Mad Men» mais tarde evocou). A sequência da perseguição pelo avião numa estrada distante ou os minutos que heróis e bandidos passam sobre as cabeças de velhos presidentes no monumento do Mount Rushmore fazem parte da galeria de imagens maiores da história do cinema, As passagens pelo edifício das Nações Unidas ou pela Grand Central são marcos na história das representações de Nova Iorque no grande ecrã. A vivenda do vilão no Mount Rushmore vinca a presença de um olhar pelas novas tendências na arquitetura americana dos anos 50. Podíamos passar aqui horas a apontar planos e mais planos. Certo sendo que a cada reencontro com «A Intriga Internacional» dou por mim a encontrar um novo motivo para voltar a falar do filme. Nuno Galopim
Título original: North by Northwest Realização: Alfred Hitchcock Elenco: Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason, Martin Landau Duração: 136 min EUA, 1959
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº6, Fevereiro 2013]
https://www.youtube.com/watch?v=ek7T9Gyl_J4