O fim do mundo é uma premissa recorrente no cinema catástrofe que apetece desenvolver numa época como a que vivemos, onde a humanidade está confrontada com as consequências do aquecimento global e das alterações climáticas. Christopher Nolan e o seu irmão Jonathan Nolan agarraram o ar do tempo ao desenvolver um filme de antecipação onde o planeta Terra se tornou num local inóspito e que está prestes a tornar-se inabitável devido a uma série de pragas que abalam as condições de vida. Escapar é a única esperança e num futuro próximo a Nasa está disposta a tentar dar esse salto procurando um novo habitat num planeta que fica fora do nosso sistema solar. «Interstellar» dá o grande salto nos filmes do género da ficção científica ao assumir que é possível viajar no tempo, sair e voltar ao nosso sistema solar através de um buraco negro que está localizado nas imediações de Saturno. É uma proposta dos domínios da ficção mas que está ancorada nas teorias da física quântica de Kip Thorne, consultor e produtor executivo do filme, e nas implicações da Teoria da Relatividade de Albert Einstein. A missão épica é assumida por Cooper (Matthew McConaughey), um antigo engenheiro e piloto de testes que não concretizou o sonho de ser astronauta. A sua viagem de dois anos até Saturno, em estado de hibernação, corresponde a 27 anos de vida no planeta Terra, o que introduz um elemento dramatúrgico interessante através da relação com a sua filha Murph, de quem Cooper se separa quando ainda ainda é menor, e que vemos em idades diferentes (interpretada consecutivamente por Mackenzie Fox, Jessica Chastain e Ellen Burstyn). Esta dimensão humanista ganha relevância emocional concreta num filme que nem sempre consegue explicar as possibilidade que se abrem com as viagens através de tempos diferentes ou entre realidades paralelas, que não encontra o tom dramático ajustado para sustentar alguns diálogos metafísicos, e que não desenvolve bem todas as personagens. Apesar dessas deficiências, «Interstellar» surge como um salto cinematográfico ambicioso e estimulante para um realizador que gosta de manipular espaço e tempo e que o fez de forma mais efetiva em «Memento» e «A Origem». Em «Interstellar», essa ligação entre planos diferentes, longínquos e paralelos, não depende tanto da estrutura do argumento ou da montagem mas sim da ligação efetiva entre o que sentimos – o Amor como elemento motor da jornada – e o que podemos alcançar – a relação com uma dimensão desconhecida através de uma viagem que não tem sustentação científica no momento em que o filme é escrito e realizado. Este é um filme futurista com raízes no real que abre horizontes impensáveis mas estimulantes no tempo em que estamos e no local onde ainda vivemos.

Título original: Realização: Christopher Nolan Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, John Lithgow, Timothée Chalamet, David Oyelowo, Anne Hathaway, Wes Bentley, Michael Caine. Duração: 169 min. EUA/Reino Unido/Canadá, 2014

[Crítica originalmente publicada na revista Metropolis nº24, Dezembro 2014]

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