Como não há duas sem três, há mais uma série a entrar no catálogo da HBO Portugal esta segunda-feira, 13. Depois de um hiato de quase dois anos, Issa Rae está de regresso com mais 10 episódios de «Insecure». A Metropolis teve acesso a metade da T4 e deixa desde já uma certeza: não desilude.
Há uma cena na quarta temporada de «Insecure» que parece ser o resumo – próximo da perfeição – do que é a storyline da série e, ironicamente, dos dias de quarentena que agora vivemos. Issa (Issa Rae) e Molly (Yvonne Orji) encontram-se para fazer exercício em casa e, no meio desta tentativa de proatividade, a primeira queima o tapete de ioga. Se há metáfora que descreve a história de «Insecure» é esta: mesmo quando a intenção é boa, tudo acaba em desastre. Já em relação ao exercício caseiro, foi quase premonitório, certo?
Ao longo da primeira metade da T4, é feita a contagem decrescente para a tão aguardada “block party” de Issa. E, se o pontapé de partida é auspicioso, uma coisa é praticamente certa: algo vai estragar tudo. A amizade de Issa e Molly tem apresentado fragilidades, nomeadamente pelos ressentimentos de parte a parte, pelo que há uma sensação constante de que tudo pode descambar. Enquanto Molly continua a encontrar problemas de forma persistente, mesmo na nova relação, Issa arrisca-se demasiado quando julga a melhor amiga e se mantém, também ela, nos mesmos erros. Fosse esta uma série portuguesa e já alguém tinha dito a tão popular frase “diz o roto ao nu”.
Seria uma desconsideração para com o incrível trabalho dos criadores Issa Rae e Larry Wilmore (Grown-ish, The Bernie Mac Show) dizer que não houve uma evolução das personagens. É inegável que houve um trabalho de emancipação na vertente profissional, até pelas exigências naturais da vida adulta, mas a componente relacional tem um longo caminho pela frente. E o caminho tem sido construído para mostrar que essa jornada dificilmente tem fim. A audiência já sabe que Condola (Christina Elmore), o novo braço-direito de Issa, está a encontrar-se com Lawrence (Jay Ellis), o ex-namorado da protagonista, e o universo da narrativa também não tarda a perceber isso. Que relações terão a capacidade de sobreviver a tamanho caos?
O humor da narrativa é um dos seus pontos fortes. Até os momentos mais rotineiros resultam frequentemente em piadas improváveis, que vão aliviando a tensão que se espera de uma temporada com o tema Lowkey (subtil, retraído). A comédia física também se mantém como aposta, bem como a linguagem explícita e visual que é já caraterística da série, num estilo bastante ousado. Por outro lado, a série tem ainda a capacidade de “caricaturizar” a própria realidade, nomeadamente com a menção à popularidade das séries que exploram crimes reais (num estereótipo hilariante) ou ao facto de se recorrer ao Youtube sempre que não se sabe fazer algo.
Estamos perante uma série de mulheres fortes, que se colocam narrativamente no lugar habitualmente atribuído aos homens. «Insecure» terá mais tendência para “falar” com a audiência feminina, mas tem a capacidade de explorar temáticas comuns a ambos os sexos. Já a insegurança que dá nome à série original da HBO, continua lá, apenas se vai reinventando e encontrando novas formas de se expressar. E de revelar esta inabilidade social de vingar na vida adulta, ao mesmo tempo que a realidade parece teimar em colocar novos obstáculos. Um trabalho notável de Issa Rae.