Um trio de fãs de podcasts de true crime decide criar o seu próprio programa quando um dos seus vizinhos aparece morto. «Homicídios ao Domicílio» é o novo original do Star/Hulu, disponível a partir de hoje, 31, no Disney+ Portugal. A Metropolis já assistiu aos primeiros oito episódios e levanta um pouco o “véu”.
E se Sting tiver assassinado um vizinho no (ficcional) edifício Arconia, em Nova Iorque? Em «Homicídios ao Domicílio» todos os moradores são suspeitos, e nem o cantor mega-famoso – que faz de si próprio na trama – pode ser descartado. Uma coisa é certa: os podcasts de true crime atraem multidões, mas ninguém quer ser o protagonista de um deles.
Ao longo dos últimos anos, os podcasts sobre crimes reais têm cativado largas audiências – ainda recentemente o mencionámos, na sequência da estreia da T2 de Truth Be Told, da Apple TV+ –, e é dessa alavancagem que surge «Homicídios ao Domicílio», uma das comédias mais improváveis deste verão. Quem diria que a série [originalmente titulada Only Murders in the Building, tal como o podcast] iria juntar o trio Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez no ecrã. Se a dupla tem feito história no cinema (O Pai da Noiva, À Dúzia é Mais Barato, etc.) e não só, numa parceria bastante frutífera, a adição da artista aos atores consagrados é tudo menos esperada. O que é, aliás, parte do interesse da narrativa, onde uma jovem forma uma equipa inesperada com um ator (a viver ainda do sucesso de uma série antiga, Brazzos) e um diretor de musicais extravagante.
Tudo porque os três vizinhos do Arconia, até então desconhecidos, partilham o gosto comum pelo podcast de sucesso da personagem interpretada por Tina Fey. Quando um vizinho antissocial é encontrado sem vida e a polícia fecha o caso como suicídio, a equipa decide investigar e, ao mesmo tempo, lançar um podcast – tornando do hobbie um assunto sério. Em termos de história, o trio funciona muito bem, com cada um dos protagonistas a ter força de forma individual e uma backstory que desperta o interesse da audiência; além de promoverem diálogos tendencialmente cómicos, nomeadamente quando tentam repetir os gags habituais destes programas áudio.
Toda a temática “pede” clichés, e eles estão lá. No entanto, estes funcionam como motor da ação, puxando pela primeira vez os obcecados dos podcasts de true crime para o centro das atenções. À experiência de Steve Martin e Martin Short (Charles e Oliver, respetivamente) junta-se o toque quase inocente de Selena Gomez, que conta com uma passagem de relevo por séries Disney e vários filmes, que resulta bastante bem com a “sua” Mabel. As reações exageradas, os acontecimentos empolados e a falta de jeito geral dos interlocutores contribuem para a composição caricatural de «Homicídios ao Domicílio» que, não obstante, entrega um mistério forte e repleto de twists.
Todavia, nem tudo é brincadeira na nova aposta do streaming Disney+. Sem revelarmos demasiado, há que elogiar o episódio 6. Cada premissa é lançada por uma personagem diferente, conhecida ou não pela audiência, e a experiência no episódio em causa é inesperada e, em certa medida, desconfortável e impactante. A ver.
Com um total de 10 episódios, «Homicídios ao Domicílio» divide bem a sua narrativa, de modo a acelerar e travar sempre que tem necessidade de relançar o mistério. Caso estivéssemos perante um drama, o ideal seria uma narrativa mais curta e fechada, a fim de não perder o interesse do espectador. Mas atendendo ao lado de comédia e clichés, a série tem assim mais tempo e disponibilidade para “cavalgar” cada recanto da jornada dos podcasters, sobretudo de quem ouve. Entre teorias, suspeitos improváveis e muita antecipação em relação ao próximo episódio, quem ouve true crime sabe como é angustiante não saber o que acontece a seguir… e é com essa curiosidade já intrínseca que «Homicídios ao Domicílio» se diverte.
Esta é uma criação de John Hoffman e Steve Martin. O elenco conta ainda com Amy Ryan, Nathan Lane, Aaron Dominguez, Julian Cihi, Ryan Broussard e James Caverly, entre outros.