HOMEM DE FERRO

[Texto originalmente publicado no site Cinema200 em 1 de Maio 2008]

A Marvel é a editora líder de banda desenhada nos Estados Unidos, estreia-se com «Homem de Ferro» como mega Estúdio de cinema privado, financiando na sua totalidade esta super produção, antes os seus projectos eram partilhados com os principais Estúdios de Hollywood . Um novo espirito começa a desabrochar, ao reger a produção cinematográfica segundo os desígnios da sua principal fonte de inspiração: os comics. Para quem conhece esta linha editorial as escolhas pouco comuns de Jon Favreau, para dirigir um blockbuster, ele que está mais ligado à veia independente e humana do cinema americano e de Robert Downey Jr. no papel de super herói acabam por não ser opções muito distantes dos conceitos da Marvel e provam ter sido a escolha acertada. A estreia não se podia efectuar de melhor forma, um registo cheio de estilo desenfreado, um epíteto da cultura pop de onde saem e se inserem os comics, há mais de meio século, com uma bela conexão para certos aspectos do mundo real, sobretudo nas relações humanas.

Em torno desta obra reuniram-se artistas que fazem do projecto um registo muscular com poucos defeitos e sem dúvida singular dos seus pares. No casting estão interpretes que são sinónimos de produções de qualidade, algo raro nas adaptações de um comic. A começar pelo protagonista, torna-se difícil imaginar outra pessoa para além de Downey Jr. a interpretar este personagem, é mais uma viragem na sua longa e acidentada carreira que parece agora conhecer melhores dias. A nível técnico, Stan Winston é o responsável pelos efeitos especiais e pela reluzente armadura do herói inspirada pela arte conceptual de Adi Granov, um artista do mundo dos comics. Favreau, mentor desta visão, explora ao máximo as capacidades de cada elemento participante, misturando a vertente humana com os códigos de um blockbuster, não perdendo o ímpeto criativo em ambas vertentes.

Este herói é diferente de outras adaptações da Marvel, não é um dissidente da sociedade ou nasceu com super poderes, o Homem de Ferro é um herói criado de raiz, é um one man show. No cerne deste personagem, Homem de Ferro/Tony Stark, está um homem maduro de meia idade numa fusão entre um inventor de sucesso e um playboy, um Howard Hughes contemporâneo. O principal super poder é o seu carisma, o alter-ego de Stark é uma extensão e uma necessidade para equilibrar a sua personalidade após um acontecimento que muda radicalmente a sua maneira de ver o mundo. O Homem de Ferro nasce de uma liberação, e essa vai ser a divisa do personagem, inicia-se a expiação e redenção de Stark, de mercador de armas para humanitário.

Os actores foram meticulosamente escolhidos reflectindo as preocupações na construção de carácter dos personagens, esta faceta assume um desempenho fundamental no sucesso do filme. O enredo e a capacidade das interpretações são tão sólidas quanto a armadura do herói. Sem descurar das magníficas sequências de efeitos especiais, quando não existe em cena os CGI à espaço para um tom bem disposto, com humor e óptimos diálogos. Não à qualquer perca de intensidade nem existe necessidade de injectar a cada minuto doses cavalares de adrenalina. O equilíbrio é a nota dominante em o «Homem de Ferro».

A plausibilidade na narrativa vai para além da ostentação de todo o estilo, sem querer massacrar a audiência, também não é o filme ideal, entra-se com humor nas incongruências actuais do modo operandis da máquina de guerra americana.

As escolhas de Stark colocam-no em confronto com o seu mentor Obadiah Stane, um delicioso papel interpretado por Jeff Bridges. Ainda surgem em cena, Gwyneth Paltrow que interpreta Pepper Potts, a responsável por desviar e absorver a pressão sobre o seu patrão e o sidekick de Stark, Jim Rhodes (Terrence Howard).

Os efeitos especiais e sonoros estão exemplares, para além das cenas de pancadaria/”heavy metal” existem pequenos aspectos onde a tecnologia é efectuada com grande verosimilhança. Por exemplo na construção do herói, aproveitando o background, os robots, os carros, as ultra inovações tecnológicas e mecânicas em torno de Stark seja no cativeiro ou no seu laboratório, tudo se desenrola sem grandes pressas de modo a que os espectadores possam digerir e sentir o nascimento de um herói.

Existe uma readaptação para o século XXI da história da origem do super herói, os tempos apesar de outros, as guerras e os seus resultados são os mesmos, o Vietname é substituído pelo Médio Oriente. Sendo este um filme de apresentação do personagem, é um exemplar cartão de visita criando óptimas perspectivas para futuras sequelas, os fãs não vão ficar desapontados e o próprio personagem de b.d vai ser impulsionado para a primeira liga da Marvel graças a esta fita.

O filme é de pura diversão e entretenimento é a receita acertada para aqueles que apreciam o cinema carregado de efeitos especiais, acção, aventura de um modo cerebral. «Homem de Ferro» é um registo obrigatório, espectadores e o super herói voam bem alto numa das melhores adaptações da Marvel para o cinema.

Título original: Iron Man Realização: Jon Favreau Elenco: Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Terrence Howard, Jeff Bridges Duração: 126 min. EUA, 2008