A questão israelo-palestiniana tem sido ao longo de quase 80 anos – desde a fundação do Estado de Israel em 1948 – tema das mais diversas manifestações e contribuições artísticas, incluindo o cinema. Neste caso, a protagonista é Golda Meir, primeira-ministra de Israel no início da década de 1970, e o conflito armado do Yom Kippur, com os vizinhos árabes Síria e o Egipto, no ano de 1973.
A solidão duma líder política durante um conflito militar, o sacrifício de vidas humanas na defesa do estado de Israel, as negociações políticas permanentes com o aliado militar norte-americano protagonizado por Henry Kissinger, numa composição eficiente de Liev Schreiber, e a dureza implacável da guerra são facetas do filme. Assinado por Guy Nattiv, vencedor dum óscar de melhor curta-metragem, «Golda» é um retrato da figura cimeira da política de Israel com um trunfo de peso: a veterana Helen Mirren aceitou vestir a pele da personagem central submetendo-se a um trabalho de caracterização física e psicológica impressivo. Uma mulher forte no seio dum governo e aparelho militar maioritariamente masculino num contraponto interessante, apesar da ausência de diálogos à altura, numa escolha de planos ousada onde o poder da banda sonora e da fotografia contribui para uma atmosfera carregada de simbolismo e peso histórico.
Dito isto, importa reter a importância de obras sobre temas históricos e episódios da vida mundial como forma de questionar as decisões políticas contemporâneas e o rumo das relações políticas e militares da humanidade. A notória ausência de “gravitas” em «Golda» não retira importância à obra, pois o peso da vida humana e o juízo sobre as consequências das decisões políticas e militares no rumo das nações são contributos decisivos para refletir acerca da situação atual e dos conflitos militares que subsistem.
Título original: Golda Realização: Guy Nattiv Elenco: Helen Mirren, Liev Schreiber, Henry Goodman Duração: 100 min. EUA/Inglaterra, 2023
https://www.youtube.com/watch?v=unW5w6JCEb8